Breve refutação da infalibilidade papal

Por Rodrigo Silva Barros





Trecho da Constituição Dogmática "Pastor Aeternus", extraído do site "Dicionário da Fé":   

1839. Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.  

A autoridade deste dogma assenta-se sobre o suposto primado do apóstolo Pedro. Sendo Pedro, supostamente, a Pedra mencionada em (Mt 16:18)[1]; e sendo só e somente ele a Pedra mencionada, ele seria o fundamento de toda a Igreja e teria o poder supremo de regê-la, através de seus sucessores. O Dogma garante, no artigo 1836[2], que o Sucessor de Pedro, exercendo a sua infalibilidade, jamais proporá uma nova doutrina que não tenha estado ao menos implícita na Tradição da Igreja.   

Para que o Sucessor de Pedro pronuncie sua doutrina, munido de sua infalibilidade, é necessário: 

a)     que ele fale como doutor e pastor de todos os cristãos, invocando a sua exclusiva autoridade;

b)     que a matéria do que trata o pronunciamento, seja exclusivamente sobre fé e moral;  

Tendo esses pressupostos em mente, podemos julgar biblicamente este Dogma. E, julgando, podemos dizer que ele é falso, pelos seguintes motivos:   

Pedro não possui o primado, porquê ele mesmo diz que não é a Pedra mencionada em (Mt 16:18): E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados (1Pe 2:4-8 ACF). A Pedra é Cristo (1Co 3:11). E Ele, Cristo, e somente Ele é o fundamento da Igreja. Foi assim que Pedro e os demais apóstolos entenderam a mensagem que Cristo disse no Getsêmani; e que Roma a deturpou.

Nunca houve, não há, e jamais haverá sucessão apostólica. Existiram quatorze apóstolos na história da Igreja e jamais existirão outros. A sucessão apostólica é impossível porquê somente os apóstolos bíblicos possuem as seguintes características:





 

[OS APÓSTOLOS:]
a) Eles são naturais de Israel;



 

b) Eles foram chamados diretamente por Cristo ou pelas Escrituras.

 Todos os apóstolos, exceto Matias foram chamados diretamente por Cristo. Por isso cabe aqui um comentário: só foi possível ao apóstolo Matias receber a honra apostólica, pelo fato de a Bíblia profetizar que um dos apóstolos se perderia ao inferno. Sendo assim, a Bíblia ordenou, séculos antes da encarnação de Cristo, que a lacuna fosse preenchida, pelo que se pode ver: Porque no livro dos Salmos está escrito: Fique deserta a sua habitação, E não haja quem nela habite, Tome outro o seu bispado. (At 1:20 ACF). Ele não seria apóstolo se, previamente, não existisse essa lacuna. É plausível afirmar que a honra que o apóstolo Matias recebeu é semelhante ao que foi dado a João Batista, cujo ministério também fora profetizado pelo Antigo Testamento.


 

c) Eles conviveram com Cristo durante três anos e meio.

Todos os apóstolos chamados conviveram com Cristo. O apóstolo Paulo conviveu com Ele no deserto da Arábia e os demais conviveram com Ele durante Seu ministério terreno em Israel;


 

d) Eles são testemunhas oculares do Cristo ressurreto.



 

e) Eles receberam confirmação de seus ministérios apostólicos através dos milagres que procediam (2Co 12:12).

A dignidade papal que define o Sumo Pontífice como o chefe da Igreja e pai de todos os cristãos[3] é uma horrenda idolatria. O Cabeça da Igreja é Cristo e tão somente (Ef 5:23). E o Único Pai de todos os cristãos salvos é Deus Pai (Mt 23:9). É de tal gravidade a idolatria papal, que o próprio Senhor Jesus considera-Se o nosso irmão, de modo que o Papa se põe acima dEle ao arrogar-se como o “pai” de todos (Hb 2:11-12). E não pode haver Vigário ou Representante de Cristo na Terra, uma vez que Deus não divide Sua glória com ninguém (Is 42:8). Essa reprovação é extensível com algumas diferenças, à Igreja Ortodoxa, já que há Patriarcas nela;

Dado que são poucos os apóstolos chamados, é fácil entender o porquê são eles, e somente eles, os homenageados por Deus em Ap 21:14. Os apóstolos, com a exceção do Ap. Paulo, considerado o menor dos apóstolos por ter sido “chamado fora de tempo” e por ter sido perseguidor da Igreja, terão os seus nomes gravados nos fundamentos da Nova Jerusalém. Se houvessem apóstolos em sucessão com igual dignidade, como deseja a doutrina papal, essa homenagem seria descabida e sem sentido. Por que os “apóstolos” de Roma não possuem parte nessa homenagem, se eles são maiores que os apóstolos de “outras Sés”, representadas pelos Onze restantes? Ou melhor, para aqueles que desejarem objetar, afirmando que Roma recebe o seu quinhão por Pedro: por que são doze fundamentos iguais e não um principal sobre onze auxiliares? A única resposta plausível é: não há outros apóstolos além dos que foram chamados por Cristo e, entre os chamados, não há, muito menos, um Vigário. Essa homenagem igualitária, por si só, destrói a noção idólatra de monarquia papista sobre a Igreja. 

Por isso que o fundamento do dogma da infalibilidade papal é falso em seu princípio gerador. Isso porquê o papa não pode alegar primado algum e, muito menos, invocar autoridade suprema como “pai e doutor” de toda a Igreja. No entanto, a doutrina de que os apóstolos são infalíveis somente em matérias de fé e moral, também é falso.  

Os apóstolos receberam autoridade de Cristo para, sob inspiração do Espírito Santo, escreverem Escritura (Jo 16:12-13). Inspirados por Deus, seus textos são infalíveis em quaisquer assuntos que abordem (Mt 24:35), até mesmo a narração exata de história (Lc 2:1-2). Outra questão contraditória nesta doutrina papal, é que o Papa está proibido de mudar a doutrina dada à Igreja. No entanto, sob inspiração divina, os apóstolos, especialmente o apóstolo Paulo, delinearam o Novo Pacto, que estava oculto outrora. Oras, se o Papa é o maior dos apóstolos, por que ele não pode trazer novas revelações? E ainda: por que ele está limitado aos assuntos de fé e a moral? A resposta: porquê a doutrina trai-se a si mesma, evidenciando a sua falsidade.  

Mas não é só: a infalibilidade dos apóstolos quando pronunciavam doutrina, era atestada por milagres realizados diante de incrédulos e confirmada por profetas. Se o Papa traz uma doutrina que conclama ser infalível, onde está o espírito que o inspirou? Por que ele não é capaz de fazer milagres para atestar a sua autoridade apostólica? A resposta: porquê isso é evidência de que ele não é um apóstolo. Na verdade todos os duzentos e cinqüenta e quatro papas que ocuparam o trono de São Pedro são anti-apóstolos, como vimos. Eles são tão anti-apóstolos quanto vários líderes de igrejas neo-pentecostais.  

O dogma é falso, portanto, porquê não há primado romano e muito menos há licitude na dignidade papal. E ainda, não há outros apóstolos além do apóstolo João, que foi convocado à Glória eterna no final do século I. A ausência de apóstolos deve-se ao fato de que Deus é constante. Ele é constante a medida em que não propõe novas revelações, uma vez dadas aquelas que Ele considera suficiente. Por isso que Ele proíbe adições à Bíblia, como expresso neste aviso solene: 

(Gl 1:9 ACF) Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.  

O dogma também é falso, pois considerando que o Papa seja, por absurdo, um apóstolo, ele não estaria sob nenhum limite que o próprio Espírito Santo não o impusesse. E ele faria milagres que serviriam de prova de seu apostolado.




Notas: 

1.      Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; Apesar da Bíblia ser auto-evidente, é interessante notar que os Pais da Igreja possuíam um entendimento discordante ao de Roma, sobre a correta interpretação deste versículo. Crisóstomo, em sua Homilia 34 sobre Mateus, afirmou que a Pedra era “a confissão de fé”, que seria espelho para os demais cristãos.

2.      Com o fim de satisfazer a este múnus pastoral, os nossos predecessores empregaram sempre todos os esforços para propagar a salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da Terra, vigiando com igual solicitude que, onde fosse recebida, se guardasse pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo o mundo, quer em particular, quer reunidos em sínodos, seguindo o velho costume e a antiga regra da Igreja, têm referido a esta Sé Apostólica os perigos que surgiam, principalmente em assuntos de fé, a fim de que os danos da fé se ressarcissem aí, onde a fé não pode sofrer quebra. E os Pontífices Romanos, conforme lhes aconselhavam a condição dos tempos e as circunstâncias, ora convocando Concílios Ecumênicos, ora auscultando a opinião de toda a Igreja dispersa pelo mundo, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios, que a Divina Providência lhes proporcionava, têm definido como verdade de fé [tudo] aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme com a Sagrada Escritura e as tradições apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de S. Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos. E esta doutrina dos Apóstolos abraçaram-na todos os veneráveis Santos Padres, veneraram-na e seguiram-na todos os santos doutores ortodoxos, firmemente convencidos de que esta cátedra de S. Pedro sempre permaneceu imune de todo o erro, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo feita ao príncipe dos Apóstolos: Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.  

3.      Por isso, apoiados no testemunho manifesto da Sagrada Escritura, e concordes com os decretos formais e evidentes, tanto dos Romanos Pontífices, nossos predecessores, como dos Concílios gerais, renovamos a definição do Concílio Ecumênico de Florença, que obriga todos os fiéis cristãos a crerem que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano têm o primado sobre todo o mundo, e que o mesmo Pontífice Romano é o sucessor de S. Pedro, o príncipe dos Apóstolos, é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja e o pai e doutor de todos os cristãos; e que a ele entregou Nosso Senhor Jesus Cristo todo o poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, conforme também se lê nas atas dos Concílios Ecumênicos e nos sagrados cânones.

 



 




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