O Movimento Carismático: Uma Crítica Bíblica




Brian Schwertley*



Introdução


O Movimento carismático é uma das mais populares e crescentes forças da cristandade nos nossos dias. As principais características doutrinárias do movimento - o batismo do Espírito Santo, o dom de línguas, as profecias, o dom de curas e a ênfase na experiência pessoal - são as maiores causas do seu crescimento e popularidade. Muito embora crescimento e popularidade sejam evidentemente desejáveis, eles não podem ser usados como um teste para aprovar práticas que a si mesmo, se consideram como verdadeiras, porque várias seitas (Testemunhas de Jeová, Mórmons) e falsas religiões (Islamismo, misticismo oriental) também têm alcançado grande popularidade e crescimento. O movimento carismático é um fenômeno do século vinte. Visto que suas práticas e ensinos são diferentes do que cristãos ortodoxos têm ensinado por dezenove séculos, nós acreditamos ser sensato examinar esses ensinos à luz das Escrituras. Nós não estamos dizendo que os carismáticos não são cristãos. E não estamos examinando suas práticas porque temos algo pessoal contra eles (o próprio autor foi um carismático por mais de três anos, e muitos dos seus amigos ainda são carismáticos). Deus nos ordena a "julgar todas as coisas" (1Ts 5:21) (1). Somos exortados a nos "apegar à palavra fiel" e a "convencer os que contradizem" (Tt 1:9). Assim, oferecemos esta exposição no espírito do amor cristão - amor por nossos irmãos, e acima de tudo, pela verdade de Deus. Ao examinarmos qualquer assunto, a pergunta mais importante é: "Que diz a Escritura" (Gl 4:30).

BATISMO NO ESPÍRITO SANTO


Uma das marcas do movimento é o chamado batismo do Espírito ou "batismo no Espírito Santo". O batismo no Espírito Santo é considerado como uma experiência que comumente ocorre após a conversão. A maior parte dos carismáticos diria que o crente recebe o Espírito Santo na conversão, mas que somente no subseqüente batismo no Espírito Santo ele recebe a plenitude do Espírito; a plena capacitação para o serviço cristão. Mas nem todos os carismáticos crêem que o batismo do Espírito é sempre acompanhado do dom de línguas como uma evidência do mesmo. O batismo do Espírito é considerado uma segunda obra da graça; isso quer dizer que alguém pode ser um cristão genuíno ainda que não seja batizado no Espírito Santo. O batismo do Espírito Santo como segunda obra da graça, depois da conversão, é um dos fundamentos da teologia pentecostal. Se essa doutrina é anti-bíblica, nós devemos considerar o movimento carismático como anti-bíblico.

A Bíblia é a única regra infalível de fé e prática. Portanto, nossas experiências, impressões e opiniões devem estar subordinadas ao que a Bíblia ensina. Será que a Bíblia ensina que todo crente deve buscar o batismo no Espírito? Ou ela ensina que o derramamento do Espírito foi um evento histórico único relacionado com a entronização de Cristo à direita de Deus Pai? Se o derramamento foi um aspecto crucial da história da salvação (como a ressurreição e a ascensão), então nós devemos considerá-lo como um acontecimento que não se repete, um evento único, que ocorreu uma vez por todas. O Pentecoste marcou "a transição final da antiga época dos tipos e sombras para o novo período das realizações. O pentecoste foi o nascimento da igreja cristã, o início da era do Espírito. Nesse sentido, portanto, o Pentecoste jamais pode se repetir, e não precisa ser repetido (2).

A primeira razão pela qual o Pentecoste deve ser considerado como um acontecimento histórico único na história da salvação é o fato de que o derramamento do Espírito havia sido profetizado. Pedro especificamente diz que o Pentecoste é o cumprimento direto de Joel 2:28-32: "Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel". João Batista disse a respeito de Cristo: "Esse é o que batiza com o Espírito Santo" (Jo 1:33; cf Mc 1:7-8, Lc 3:16). Jesus mesmo disse que o Espírito seria derramado após a sua ascensão: "Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se porém, eu for, vo-lo enviarei" (Jo 16:7; cf At 1:5).

A segunda razão pela qual o dia de Pentecoste deve ser considerado como um evento único na história é a forma com que as Escrituras relacionam o Pentecoste com a glorificação e entronização de Cristo à direita de Deus. Jesus Cristo, como o Mediador divino-humano, humilhou-se a Si mesmo, obedeceu à lei em todos os seus pormenores, sofreu e morreu como um sacrifício vicário pelo Seu povo. Após sua ressurreição, Deus O exaltou e O glorificou como o Mediador divino-humano (em Sua natureza divina, Cristo não podia receber mais nenhuma glória ou exaltação, porque Ele é Deus). Um aspecto da glorificação de Cristo é que Ele batiza a Sua igreja com o Espírito Santo. "Isto Ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nEle cressem; pois o Espírito até esse momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado" (Jo 7:39). No seu sermão no dia de Pentecoste, Pedro explica o que ocorreu: "Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis" (At 2:33). Os particípios, "exaltado" e "tendo recebido" estão ambos no aoristo (3); o verbo "derramou" também está no aoristo. Portanto, é evidente que Pedro estava falando de um fato histórico isolado, não de um processo contínuo. A morte de Cristo, sua ressurreição, ascensão e derramamento do Espírito Santo na igreja, todos são tratados nas Escrituras como eventos históricos da história da salvação, que não mais se repetem.

A terceira razão pela qual o que ocorreu no dia de Pentecoste deve ser considerado como um evento histórico único é o fato de que após o Pentecostes (com a exceção de Atos 8:14-17, que será discutido mais adiante) o crer em Cristo e o receber o Espírito Santo são simultâneos. O relato da pregação de Pedro em Atos 10:34-48 revela que os gentios receberam o Espírito Santo no momento em que creram. No clímax do sermão de Pedro, os gentios receberam o Espírito Santo. Que Pedro entendeu o batismo no Espírito como sendo simultâneo à salvação deles é evidente pelo fato de que imediatamente "ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo" (At 10:48). A regra é salvação e o Espírito ao mesmo tempo. O apóstolo Pedro estava presente e portanto ele poderia relatar ao concílio da igreja (formado de judeus) que os gentios eram verdadeiros crentes. Ao mesmo tempo, os gentios reconheceriam a autoridade apostólica, porquanto Pedro havia estado com eles e de fato foi quem os conduziu a Cristo. Ambos os grupos sabiam que tinham o mesmo Espírito Santo (4). Notem que o enfoque de Atos 10 e 11 não é em como receber o Espírito Santo ou em como receber uma segunda benção, pois os gentios não pediram, nem buscaram o batismo do Espírito. O ponto principal dos dois capítulos é mostrar que "também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida" (At 11:18).

PAULO EM ÉFESO


Uma passagem que tem sido muito usada como prova textual para o recebimento do Espírito Santo subseqüente ao crer é Atos 19:1-7 (Paulo em Éfeso). O uso dessa passagem pelos pentecostais é baseado em um erro de tradução da versão em inglês (Versão Autorizada do Rei Tiago), onde se lê: "Recebestes o Espírito Santo desde que crestes?" (v. 2). [ver Nota-1 de solascriptura-tt.org]. A passagem literalmente diz, no grego: "Recebestes o Espírito Santo, tendo crido?". A versão Revista e Atualizada [ver Nota-2 de solascriptura-tt.org] traduz a passagem corretamente: "Recebestes, porventura o Espírito Santo quando crestes?". Na verdade, essa passagem é uma excelente prova contra a doutrina carismática do recebimento do Espírito Santo como segunda obra da graça, depois da salvação. Por quê? Porque a pergunta de Paulo presume que no curso normal dos acontecimentos, salvação e batismo do Espírito ocorrem ao mesmo tempo. O fato de que os discípulos de João Batista não tinham nem ouvido falar do Espírito Santo indicava que não haviam recebido o batismo cristão e permaneciam crentes da Antiga Aliança e ainda não eram cristãos. O problema desses seguidores de João Batista não era que eles necessitavam de uma segunda obra da graça, mas que precisavam crer em Jesus Cristo. Depois de crer e serem batizados eles foram batizados com o Espírito Santo. Por que foi necessário para o apóstolo Paulo impor as mãos sobre esses homens? A imposição das mãos em Atos 19:6 (como em Atos 8:17) está relacionada com a autoridade única dos apóstolos. Do contrário não haveria necessidade dos samaritanos esperarem pelos apóstolos (At 8). "Significa que ele fez isso para mostrar-lhes que, como judeus que eram, não deviam mais seguir os ensinamentos de João Batista, mas os ensinos dos apóstolos" (5).

OS SAMARITANOS


E o que dizer de Atos 8:14-17? (Pedro e João em Samaria). Não registra essa passagem que os samaritanos receberam o Espírito Santo depois de crerem em Cristo? Sim. Mas ele não sustenta a doutrina carismática da subseqüência como sendo a ordem natural das coisas. Essa passagem é uma excelente prova textual contra o movimento carismático. Pois, se o que os carismáticos dizem fosse verdade, Filipe, o evangelista, teria encorajado esses novos convertidos a orar e buscar essa segunda benção. Filipe, que operava grandes milagres (diferente dos carismáticos modernos), não ensinou ninguém a buscar, ou suplicar, ou esvaziar a si mesmo para receber o batismo do Espírito. O fato de Deus não haver batizado os samaritanos com o Espírito Santo até a imposição de mãos dos apóstolos é claramente devido à situação histórica única daquele momento. Por causa do ódio racial entre judeus como para os samaritanos que a imposição de mãos acontecesse. Os apóstolos reconheceram os samaritanos como aceitos por Deus em Cristo e plenamente participantes do reino. Os samaritanos reconheceram que os apóstolos judeus eram os líderes autoritativos da igreja. Se essa passagem fosse normativa para a igreja dos nossos dias, então deveríamos ensinar que todo o crente deve esperar pela imposição das mãos de um apóstolo antes de receber o batismo do Espírito. Portanto, a única passagem que poderia ser usada para sustentar a doutrina do batismo do Espírito como a segunda obra da graça após a salvação é inconsistente e não prova nada. Se os carismáticos fossem coerentes eles não buscariam o batismo do Espírito Santo, mas simplesmente esperariam por um apóstolo. O último apóstolo genuíno morreu há quase mil e novecentos anos.

Não é somente o livro de Atos que não sustenta a doutrina carismática da subseqüência [que o Batismo do Espírito vem depois, bem depois da salvação], as epístolas negam abertamente tal ensino. "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito" (1Co 12:13). Paulo diz que todos os cristãos foram batizados no Espírito. "Você não precisa buscar um batismo do Espírito como se esse fosse uma experiência pós-conversão; Paulo está dizendo aos coríntios e a nós: Se você está em Cristo, você já foi batizado no Espírito!" (6) Alguns autores carismáticos têm tentado distorcer o ensino claro dessa passagem apelando para o uso da palavra "por", utilizada na Versão Autorizada (King James) em inglês. Eles argumentam que "por um só Espírito" é diferente de "em um só Espírito". O único problema com esse argumento é que a palavra grega en traduzida por "por" no versículo 13 pode também ser traduzida por "em" ou "com". Portanto, o batismo no Espírito em 1 Coríntios 12:13 é idêntico a todos os acontecimentos do livro de Atos (7). Outros autores carismáticos sustentam que a primeira parte da passagem se refere à conversão e a segunda parte ao batismo do Espírito. Essa interpretação se torna impossível pela utilização, por parte de Paulo, da palavra "todos". Paulo diz que todos os membros pertencem a um só corpo. Se Paulo estava se referindo a dois grupos distintos, ele não poderia ter usado a palavra "todos". "O versículo 13, portanto, claramente ensina, primeiro, que todos os crentes compartilham do dom do Espírito e, segundo, isso desde o momento em que passam a fazer parte do corpo de Cristo. Esse versículo é a rocha que despedaça toda e qualquer construção do batismo do Espírito Santo como uma experiência adicional, pós-conversão e da segunda benção" (8).

O ensino de que todos os cristãos são batizados no Espírito Santo na conversão é sustentado por outros textos bíblicos. Paulo passa parte do capítulo 8 de Romanos discorrendo sobre o Espírito Santo. Alguma vez Paulo sugeriu que receber o Espírito Santo é um processo de dois estágios? Não. Paulo claramente diz que se você é um cristão, você tem o Espírito Santo. Se você não é um cristão, você não O tem. "E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle" (Rm 8:9). "Sugerir, como fazem nossos amigos neopentecostais, que o Espírito vem habitar em alguém somente como uma pequena gota quando essa pessoa se converte, e que não habita na sua totalidade até algum tempo depois contradiz o ensino evidente desse versículo. Se você é um cristão, Paulo diz a todos nós: "o Espírito habita em você. O que pode Ele fazer mais do que habitar em nós? Pode Ele habitar dupla ou triplamente?" (9) Paulo diz: "...o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós" (1 Co 6:19). Ele também diz, "Porque nós somos santuário do Deus vivente, como Ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles..." (2 Co 6:16). Nós devemos basear a nossa doutrina do batismo do Espírito no pleno ensino das epístolas. Uma doutrina deve ser baseada em passagens claras, didáticas, ao invés de em um único evento histórico.

Embora a Bíblia ensine que todo aquele que se torna um cristão é batizado no Espírito Santo, ela também ensina que cristãos precisam ser continuamente cheios do Espírito. Nós não podemos confundir estes dois conceitos. O batismo do Espírito se refere ao que acontece quando nos tornamos parte do corpo de Cristo (o Espírito Santo passa a habitar e nós). O encher-se ou a plenitude do Espírito refere-se à atividade contínua do Espírito na vida do crente após sua conversão. Crentes dependem do poder transformador do Espírito Santo para o seu crescimento na piedade e na santificação. A única passagem no Novo Testamento onde os cristãos são exortados a serem cheios do Espírito Santo é Efésios 5:18: "...mas enchei-vos do Espírito...". O verbo "enchei-vos" na língua original é uma ordem (imperativo) no presente. Isso significa que os cristãos são exortados a continuamente, dia a dia, a encherem-se do Espírito. Como nos enchemos do Espírito Santo? É isso alguma experiência mística somente para crentes "superespirituais"? A Bíblia ensina que nos enchemos do Espírito Santo por crer e obedecer à Palavra de Deus.

"Isto, portanto, digo, e no Senhor testifico, que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza dos seus corações... Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que de fato o tendes ouvido, e nEle fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade" (Ef 4:17, 20-24).

Não é por acidente que a passagem paralela a Efésios 5:18, que diz: "mas enchei-vos do Espírito", é Colossenses 3:16, que diz: "...habite ricamente em vós a palavra de Cristo".

Diante do paralelismo que envolve as duas cartas nós somos levados a concluir que encher-se do Espírito e ter a Palavra de Cristo habitando em si são equivalentes. Essa Palavra que habita ricamente não é alguma verdade especial ou particular concedida somente a alguns, mas "todas as coisas que vos tenho ordenado" (Mt 28:20), fielmente cridas e obedecidas... A realidade do encher-se do Espírito é a realidade, em toda a sua dimensão e riqueza, da obra contínua de Cristo, o Espírito que dá a vida, com a Sua Palavra. Procurar alguma outra palavra que não a Sua Palavra, reunida nas Escrituras para a Igreja, é buscar a outro espírito que não o Espírito Santo (10).

Jesus salienta a importância das Escrituras: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade" (Jo 17:17).

Os carismáticos ensinam que crer em Jesus Cristo não é o bastante para a vida cristã plena. Eles crêem que uma segunda obra da graça (o batismo no Espírito Santo) é necessária para a plenitude espiritual. Esse ensino é uma negação sutil da suficiência que temos em Cristo; ele retira a glória devida a Jesus Cristo e claramente contradiz o ensino de Paulo sobre a plenitude que temos em Cristo. "...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Cl 2:9,10). "A obra do Espírito não é um adedum à obra de Cristo... A obra do Espírito não é um 'bônus' adicionado à salvação básica assegurada por Cristo. Pelo contrário, o Espírito traz a luz não só que Cristo viveu e que fez certas coisas, mas também que Ele, como a fonte da vida no futuro, vive e opera ainda hoje na igreja. Por meio e no Espírito, Cristo revela que está presente" (11). O ensino de Paulo é apoiado por Pedro: "...pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo dAquele que nos chamou..." (2 Pe 1:3). Os dois apóstolos afirmam que recebemos tudo aquilo que precisamos quando cremos em Cristo. Se uma segunda obra da graça fosse necessária além de Cristo, essas passagens simplesmente não poderiam ser verdadeiras. Portanto, você precisa decidir se segue o ensino da Palavra de Deus ou o ensino do pentecostalismo.

Por que Jesus Cristo é suficiente? Por que isso de, nas epístolas, receber o batismo no Espírito Santo nunca é separado do crer em Cristo? Por que é errado pensar que o batismo do Espírito é algo acrescentado à obra de Cristo? Porque os cristãos estão justificados em Jesus Cristo. Toda a culpa do pecado que cada crente cometeu é imputada ou colocada sobre Jesus Cristo na cruz. E a justiça perfeita de Cristo é imputada ao crente. O crente é visto com a vida, perfeita e sem pecado, de Cristo. Assim sendo, fazemos a seguinte pergunta: o veredicto de Deus sobre o pecador caído o qualifica para receber o batismo no Espírito Santo? Certamente que sim! A pessoa que crê em Jesus Cristo recebe a perfeita justiça de Cristo como um dom gratuito de Deus. Aos olhos de Deus ele é tão justo quanto Jesus Cristo. É Jesus Cristo o suficiente para receber o batismo no Espírito Santo? Se a obra de Cristo, que confere ao cristão uma justiça perfeita, sem pecado e absolutamente justa (diante de Deus, o Pai, judicialmente no tribunal celestial) não é suficiente, então o que mais é necessário? Paulo diz: "...tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa" (Ef 1:13). Pergunta ele: "Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" (Gl 3:2).

A doutrina do batismo do Espírito como uma segunda obra da graça subseqüente à salvação não tem sustentação bíblica. O único derramamento do Espírito Santo, enviado por Cristo dos céus, foi um dos aspectos da glorificação de Cristo e, como a ressurreição e a ascensão, não se repetirá novamente. As epístolas do Novo Testamento ensinam que crer em Cristo, tornar-se parte do Seu corpo, a igreja, e receber o batismo do Espírito, tudo ocorre ao mesmo tempo. Há vários trechos que falam do ministério do Espírito Santo nas epístolas, no entanto, em cada um deles, o batismo do Espírito nunca é mencionado. Em nenhum lugar das epístolas é dito aos crentes que busquem o batismo do Espírito. A Bíblia ensina que receber a Jesus Cristo e submeter-se à Sua Palavra é tudo o que o crente precisa para ser completo (2 Tm 3:16, 17 e Tg 1:4). A doutrina carismática da segunda benção (ou seja, o batismo do Espírito) é um desvio da ortodoxia protestante. Ela não foi ensinada pelos reformadores protestantes cheios do Espírito (Lutero, Zwuinglio, Bucer, Calvino, Knox, etc.). Não foi ensinada por nenhum dos grandes teólogos dos séculos dezesseis, dezessete ou dezoito (Gillespie, Rutherford, Owen, Edwards, Turrentin, Hodge, Dabney, Warfield).

A doutrina do batismo do Espírito como uma segunda obra da graça surgiu diretamente no terreno do movimento da segunda benção da santidade (movimento Holiness) do século dezenove. Muitos mestres desse movimento rejeitaram a doutrina ortodoxa que descreve a santificação como sendo um processo de crescimento que dura a vida inteira, onde o pecado nunca é completamente erradicado do crente. Mestres metodistas 'holiness' ensinavam que cristãos podiam receber uma "segunda benção" que concedia ao crente, instantaneamente, "completa santificação". A natureza pecaminosa era completamente eliminada do crente. E assim, o crente tornava-se perfeito e sem pecado. A doutrina da segunda benção da completa santificação, da perfeição sem pecado, é condenada pelo apóstolo João: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1 Jo 1:8). Os pentecostais originais levaram a doutrina da segunda benção um passo adiante e ensinaram o "batismo do Espírito" como uma terceira benção. Embora a maioria dos pentecostais eventualmente rejeitem a idéia de santificação total, contudo, os pais do pentecostalismo moderno eram heréticos.

Em 1901, Charles F. Parham conduziu a difundida insistência "pentecostal" do "batismo do Espírito Santo" (como é descrito no segundo capítulo de Atos) à conclusão de que as línguas deviam continuar a ser o sinal de uma experiência pentecostal. Um aluno de Perham, W. J. Seymour, popularizou esse novo começo do pentecostalismo em 1906 no reavivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, depois do que, esse movimento expandiu-se em suas variadas formas... Os mestres pentecostais originais, Parham e Seymour, ensinavam a posição metodista 'holinessiana' de uma "segunda benção" da perfeita santificação na qual a natureza pecaminosa era erradicada. Isso, diziam eles, era seguido de uma terceira bênção, o "batismo do Espírito", acompanhada pelas línguas (12).

Nos vinte anos seguintes à fundação do pentecostalismo moderno por Charles Perham, muitas das pessoas que se tornaram pentecostais eram mais de tradição batista que Metodista Holiness. Esses novos pentecostais rejeitaram a posição da segunda bênção da completa santificação. Dessa forma, a terceira bênção, "o batismo do Espírito" (13) se tornou a "segunda bênção". A teologia pentecostal tem mantido esse conceito da segunda bênção até hoje. O pentecostalismo e o movimento carismático não nasceram de uma cuidadosa exegese da Palavra de Deus, antes originaram-se do herético reavivalismo 'holiness'.

É irônico que os carismáticos, que se consideram experts em Espírito Santo, tenham um entendimento completamente equivocado do propósito do ministério do Espírito Santo. Ensina a Bíblia que o Espírito Santo veio para que tivéssemos uma maravilhosa e subjetiva experiência? Para que pudéssemos ter maravilhosas sensações religiosas? Para que pudéssemos sentir uma corrente elétrica em nossos corpos? Para que pudéssemos ter uma experiência excitante e atordoante? Para que nossos cultos de adoração deixassem as pessoas dizendo: "Uau, que emocionante!"? Ensina a Bíblia que o Espírito Santo veio para que as pessoas tivessem as suas atenções voltadas para Ele? Para que pessoas pendurassem faixas com imagens de pombas nas igrejas e tivessem seminários sobre o batismo do Espírito, etc? Não, de forma alguma. Vejam com atenção o que Jesus Cristo diz sobre o ministério do Espírito: "...quando vier, porém, o Espírito da verdade, ...Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar" (Jo 16:13, 14). O Espírito Santo veio para guiar os homens a Cristo e para glorificar a Cristo. Depois de Pedro ser batizado no Espírito ele levantou e falou à multidão da sua maravilhosa experiência? Será que ele disse "Varões e irmãos, eu acabei de receber o batismo do Espírito Santo, e eu quero contar-vos como isso é maravilhoso. Quando isso me aconteceu foi como se eu fosse atingido por uma corrente elétrica. Eu senti um amor e uma paz passando por todo o meu corpo, até a planta dos meus pés!"? Pelo contrário, Pedro não fez qualquer referência a si mesmo ou ao que sentiu. A sua mensagem foi Jesus Cristo, e este crucificado: "Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus..." (At 2:22). (14)

LÍNGUAS


Uma prática que todos os pentecostais e carismáticos têm em comum é a de "falar em línguas". Visto que existem diferenças de opinião quanto ao que são essas línguas e como elas devem ser utilizadas no culto público e nos momentos de devoção pessoal, nós trataremos apenas de aspectos que são comuns dentro do movimento carismático.

Os carismáticos geralmente sustentam três diferentes usos das línguas. Primeiro, a maioria alega que falar em línguas é a evidência inicial do recebimento do batismo do Espírito Santo (15). Eles consideram os episódios históricos no livro de Atos (capítulos 2, 10 e 19) como normativos para a igreja em todas as épocas. Segundo, as línguas devem ser usadas no culto público para a edificação do corpo. Essas línguas faladas em público devem ser interpretadas ou traduzidas para que a mensagem de edificação possa ser entendida por todos. (Em muitas igrejas carismáticas, pessoas falam "línguas" que nunca são interpretadas). Carismáticos divergem sobre se as línguas faladas nos cultos são ou não uma forma de revelação direta de Deus. O terceiro uso que se faz das línguas é o de falar em línguas para a edificação pessoal. Esse uso é baseado em uma falsa interpretação de 1 Co 14:1-4. Essa forma de língua é considerada uma língua particular de oração a Deus.

Há várias questões relacionadas às línguas que queremos responder. O que são as línguas, biblicamente falando? São elas línguas verdadeiramente humanas ou são expressões ininteligíveis e desarticuladas? Existem dois tipos de línguas na Bíblia: uma para a igreja e outra para a oração particular? Possuem elas uma natureza de revelação, como a profecia, ou são elas apenas outro método de exortação não inspirada?

A única maneira de definirmos as línguas biblicamente é estudando o uso que os autores bíblicos fazem do termo. A palavra grega glossa, traduzida por "língua" (plural = glossais), quando não se refere ao órgão do corpo chamado língua, refere-se tanto a um grupo étnico (um grupo separado pelo idioma) ou aos idiomas humanos. "A palavra glossa é utilizada por volta de trinta vezes na Septuaginta - versão grega do Antigo Testamento - e o seu significado é sempre de uma língua humana normal" (16). Nossa preocupação principal é quanto ao que o termo se refere quando fala do dom de línguas no Novo Testamento. A Bíblia claramente ensina que o dom espiritual de falar em línguas sempre se refere a línguas humanas reais (inteligíveis) e conhecidas.

No dia de Pentecoste os discípulos "passaram a falar em línguas" (glossais - At 2:4). Estavam eles balbuciando expressões sem sentido ou falando em línguas verdadeiramente humanas? Em virtude desse primeiro acontecimento servir de paradigma ou padrão para todos os outros "falar em línguas", o Espírito Santo cuidadosamente definiu a natureza das línguas; é evidente que os discípulos estavam falando línguas reais, línguas conhecidas. Eles até mesmo falavam diferentes dialetos da mesma línguas (os frígios e panfílios falavam diferentes dialetos do grego).

"Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam pois atônicos, e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua (dialektos) materna...?".

Como que para enfatizar que os discípulos falavam línguas reais e não expressões incompreensíveis, Lucas até mesmo lista povos das pessoas que ouviram suas línguas nativas: "...partos, medos, e elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia; da Frígia e Panfília, do Egito e das regiões da Líbia nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tantos judeus como prosélitos, cretenses e arábios; como os ouvimos falar em nossas próprias línguas (glossais) as grandezas de Deus?". (At 2:9-11). Em Atos 2, a palavra glossais é usada por Lucas intercambiavelmente com dialektos ("uma língua ou idioma peculiar a um povo" - J. H. Thayer). O relato bíblico registra que em três ocasiões a multidão disse que ouvira suas próprias línguas sendo faladas. Lucas até registra as diferentes línguas nacionais e dialetos regionais que foram faladas pelos discípulos.

Em Atos, línguas são sempre idiomas humanos reais. Esse fato é confirmado quando examinamos o derramamento do Espírito Santo sobre os gentios em Atos 10: 44-48. Pedro diz que os gentios: "... assim como nós, receberam o Espírito Santo..." (v. 47). Ele conta à igreja de Jerusalém que "... caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós no princípio". (At 11:15). Pedro diz que Deus concedeu aos gentios "... o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus..." (v. 17). Pedro está dizendo que os gentios tiveram a mesma experiência que os discípulos no dia de Pentecoste: "Essa semelhança entre as experiências estende-se não apenas ao fato do recebimento do Espírito, mas à natureza do falar em línguas estrangeiras" (17). Portanto, não existe a menor evidência no livro de Atos de que falar em línguas seja qualquer coisa senão falar em idiomas estrangeiros. Mas o que dizer de 1 Coríntios?

Em 1 Coríntios, línguas também são idiomas estrangeiros. Examinemos primeiro os textos que claramente se referem a línguas e então examinemos os textos usados pelos carismáticos como justificativa para uma língua que não é deste mundo, estática, uma língua especial para se orar a Deus.

Paulo referia-se ao dom de línguas como gene glossen, traduzido como "variedades de línguas" (1 Co 12:10 e 28). Este termo genos, no Novo Testamento, refere-se à família, descendência, raça, nação, espécie, tipo e classe. Ele sempre designava itens relacionados entre si. Há muitas "espécies" de peixe (Mt 13:47), mas são todos peixes. Há várias "castas" de demônios (Mt 17:21), mas eles continuam sendo demônios. Há muitos "tipos" de vozes (1 Co 14:10), mas todas são vozes. Portanto, podemos concluir que há vários "tipos" de línguas, mas todas elas são línguas. Existem várias famílias de línguas no mundo - semítica, eslava, latina etc. Todas elas têm uma coisa em comum, elas possuem um vocábulo definido e construção gramatical. Paulo certamente não podia ter misturado línguas estrangeiras conhecidas com expressões desconhecidas e estáticas colocando-as sob uma mesma classificação. Elas simplesmente não têm nenhuma relação entre si. (18)

Portanto, se existem dois tipos de línguas completamente diferentes um do outro - línguas inteligíveis de um lado, e uma língua estática, ininteligível para oração particular do outro, como muitos carismáticos asseveram - então, o Espírito Santo, que não pode mentir, não teria utilizado a palavra genos para se referir às línguas no capítulo doze de 1 Coríntios.

Outro texto que vai de encontro à posição carismática é 1 Co 14:21,22: "Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e, sim para os que crêem." Aqui a palavra "línguas" refere-se a uma língua real, um idioma estrangeiro (assírio (19)), mostrando que o apóstolo Paulo considerava essas "línguas" como sendo línguas correntes da época.

Isso é também confirmado pelo uso do artigo hai e pela conjunção inferencial hoste (de sorte que; portanto). Se Paulo considerava o falar em línguas como sendo uma linguagem desconhecida, ele nunca teria usado a mesma palavra duas vezes nos dois versículos, especialmente pelo fato de que o significado de glossa já estava claramente estabelecido no versículo anterior (20).

Nosso argumento de que "línguas" se refere a idiomas estrangeiros ee apoiado pela palavra grega utilizada por Paulo quando ele dis que "línguas" devem ser interpretadas (1 Co 12:10; 14:26, 28). Quando a palavra hermeneuo não é utilizada para descrever a exposição das Escrituras, ela simplesmente significa "traduzir o que foi falado ou escrito em uma língua estrangeira" (21). Quando o termo é usado referindo-se à exposição das Escrituras (Lc 24:27) ele é traduzido como "interpretar". Um intérprete é alguém que traduz um idioma estrangeiro para um outro compreensível à audiência presente.

Certa posição, que é às vezes tomada, diz que o dom da interpretação é um tipo de habilidade intuitiva através da qual um membro da congregação concede um significado inteligível às expressões ininteligíveis de outro. Mas tal posição não é somente estranha à utilização bíblica de "interpretar" (hermeneo e seus derivados), mas também pressupõe a posição sobre as línguas que já discutimos e rejeitamos. A única razão pela qual o falar em línguas é ininteligível para os que ouvem é que eles não compreendem a língua que está sendo falada (22).

Mas não existe textos que ensinem que há um uso das línguas na oração particular - que as línguas devem ser usadas para oração particular a Deus e para a edificação pessoal? As três passagens comumente usadas para sugerir dois tipos de línguas são Rm 8:26, 1 Co 13:1 e 1 Co 14:2-4. O primeiro texto na verdade não tem nenhuma relação com línguas: "... mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis". Inexprimíveis ou gemidos obviamente não podem se referir a línguas.

Mas o que dizer de 1 Co 13:1? Não ensina esta passagem que podemos orar na línguas dos anjos? "Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos...". Fica claro pelo uso gramatical do grego (ean com o subjuntivo) e pelo contexto que Paulo está falando hipoteticamente. "Ele coloca isso, hipoteticamente, como sendo a mais grandiosa realização possível" (23) - ou seja, para fazer uma observação. Paulo não está dizendo à igreja para orar na língua dos anjos. Ele está dizendo que, não importa quão fabulosos sejam os seus dons, você precisa de amor. E, ainda que fosse possível falar a língua dos anjos, ela continuaria sendo uma língua real e traduzível, não um bando de expressões desconexas. Lingüistas têm a habilidade de observar substantivos, expressões adverbiais, etc. Assim, se as pessoas estivessem de fato falando na língua dos anjos poderíamos determinar se uma língua verdadeira e real (ainda que celestial) estivesse sendo falada.

A melhor prova textual para orações em línguas é 1 Co 14:1-5.

"Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação".

A primeira coisa que precisa ser notada nessa passagem é, sem considerarmos qualquer interpretação do que vem a ser "a si mesmo se edifica" (vv. 4), as línguas faladas por todo o capítulo 14 são línguas estrangeiras reais, verdadeiras. Não há nada na passagem, ou no contexto mais amplo, que ensine que as línguas citadas nos versos de dois a quatro são especiais (expressões sem sentido e estáticas), únicas ou diferentes. As línguas mencionadas no versículo são línguas estrangeiras verdadeiras, da mesma forma que as línguas dos versículos 21 e 22. Esse fato é importante; se alguém crê que 1 Co 14:2-4 justifica o uso de uma língua particular nas devoções, há, então, um teste objetivo para determinar se a pessoa está falando expressões desarticuladas (i. e. construções silábicas sem sentido) ou uma verdadeira língua estrangeira: a língua falada poder ser gravada e submetida à verificação de qualquer lingüista competente.

Será que essa passagem ensina o uso particular das línguas? Não. Paulo está falando acerca da edificação da igreja durante o culto público. Ele argumenta que prefere a profecia ao dom de línguas devido à sua superior capacidade para edificação da igreja (24). Quando ele diz: "Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende...", ele não está dizendo aos coríntios que eles deveriam orar a Deus em línguas e em secreto; ele está enfatizando que sem um intérprete, ninguém na congregação, exceto Deus, o entende (25). Da mesma forma, quando Paulo fala acerca de orar e cantar com o espírito, ele deixa bem claro que tudo deve ser interpretado, pois está tendo lugar no culto público: "E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças, visto que não entende o que dizes?" (1 Co 14:16). Não há simplesmente a mínima evidência da idéia de línguas devocionais destinadas especialmente à devoção pessoal.

Mas então o que Paulo quer dizer quando escreve: "O que fala em outra língua a si mesmo se edifica...?" O contexto indica que Paulo está descrevendo alguém que fala em línguas na igreja sem um intérprete. Ele não está dizendo que os cristãos devem orar em línguas para serem edificados. Por todo esse capítulo, várias vezes ele sustenta a necessidade da interpretação das línguas, do contrário a igreja não é edificada: "Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir para a edificação da igreja. Pelo que o que fala em outra língua, ore para que possa interpretar" (1 Co 14:12,13). Como toda a ênfase do capítulo é na edificação do corpo, é provável que "a si mesmo se edifica" deva ser compreendido no sentido negativo. Falar em línguas sem haver interprete simplesmente chama a atenção para um indivíduo, e não beneficia o corpo. Falar em línguas no culto público sem um intérprete é uma forma de auto-glorificação.

Por que é significativo dizer que o falar em línguas se refere a idiomas estrangeiros e não a expressões desarticuladas e ininteligíveis? É significativo porque isso nos fornece um método objetivo para determinar se o falar em línguas moderno é verdadeiro ou se é um produto do homem. Se o movimento carismático é verdadeiramente uma obra de Deus, então uma pessoa deveria ser capaz de verificar isso simplesmente gravando as pessoas falando em línguas e fazendo com que essa gravação fosse analisada por lingüistas, para verificar-se qual língua estava sendo falada. Se línguas fossem meramente essas expressões ininteligíveis e desarticuladas que encontramos nas igrejas carismáticas e não idiomas verdadeiros, então as línguas não seriam um sinal para os incrédulos como Paulo claramente afirma. Um sinal é um milagre público e notório. "Falar em idiomas estrangeiros sem nunca tê-los aprendido constituiria certamente um milagre divino; no entanto, proferir expressões sem sentido e ininteligíveis facilmente pode ser feito tanto por um cristão como por um não redimido" (26). Todas as vezes, que no século vinte, as "línguas" faladas pelos carismáticos foram gravadas e analisadas por lingüistas, constatou-se que de fato elas não eram idiomas verdadeiros, mas sim expressões sem sentido. O "falara em línguas" moderno sequer se assemelha a qualquer idioma, estruturalmente falando. "A conclusão dos lingüistas indica que a glossolalia moderna é composta de sons desconhecidos que não possuem vocábulo distinto nem características gramaticais. O caráter essencial desse novo movimento está portanto em desacordo com o fenômeno bíblico do falar em línguas" (27). Diante disso, concluímos que o "falar em línguas" moderno contradiz tanto o claro depoimento das Escrituras, quanto averiguações objetivas e empíricas. Aqui está um desafio a qualquer carismático ou pentecostal: grave o culto da sua igreja e analise as "línguas" objetivamente.

Há várias outras indicações que revelam que as línguas modernas são uma fraude. Os carismáticos são ensinados a falar em línguas. Dizem-lhes coisas como "Agora ore em voz alta, mas não fale em português (inglês no original)!"; ou "Comece a dizer sílabas - apenas deixe fluir!". Muitos carismáticos "aprendem" a falar em línguas imitando outros membros na sua congregação, ou em uma conferência. Será que nós encontramos alguém sendo ensinado a orar em línguas no Novo testamento? Não, o caso é exatamente o oposto. Aqueles que falavam em línguas no livro de Atos, por exemplo, nunca perguntaram o que fazer, e a eles nunca lhes é dito para fazer ou dizer alguma coisa. Nos relatos bíblicos as pessoas falam em línguas espontaneamente. Em Atos 2:4, 10:46 e 19:6 aqueles que falaram em línguas o fizeram sem nenhuma incitação ou preparação. Na verdade, em cada um dos casos, os que falaram em línguas, até o momento em que falaram, sequer tinham conhecimento de que algo como falar em línguas existia! Assim, as línguas modernas não são apenas expressões desarticuladas e sem sentido quando comparadas aos idiomas estrangeiros falados no Novo Testamento, mas também o modo pelo qual os carismáticos recebem o "dom de línguas" é completamente diferente daquele apresentado no relato bíblico (28).

Se as "línguas" modernas (i. e., expressões desarticuladas e sem sentido) são completamente diferentes das línguas das Escrituras (que eram verdadeiros idiomas estrangeiros), o que aconteceu às verdadeiras línguas relatadas na Bíblia? A Bíblia ensina que as línguas e os outros sinais sobrenaturais cessaram.

"O amor jamais acaba; mas havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido." (1 Co 13:8-12).

Paulo contrasta os dons revelatórios da profecia, conhecimento especial e línguas, que por natureza são parciais e incompletos, com o cânon completo das Escrituras (que foi completado com os vinte e sete livros do Novo Testamento).

Aquilo que haveria de suplantar o que é parcial e aniquilá-lo é chamado de "perfeito". Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. É difícil notarmos aqui o paralelismo antitético entre o que é "parcial" e o que é "perfeito" (completo, maduro, pleno). Como o que é "parcial" se refere a profecia e a outros tipos de conhecimento revelacionais, então poderia ser que esse "perfeito", que suplantaria esses conhecimentos, represente o perfeito e final cânon do Novo Testamento (Tg 1:21). Isto deve-se ao fato de que tipos de revelação estão sendo propositalmente contrastados. Dessa forma, ele torna o homem de Deus perfeitamente habilitado para toda e qualquer tarefa (2 Tm 3:16). Em outras palavras, haverá um tempo quando o processo revelatório de Deus será completado (29).

A principal objeção usada pelos carismáticos contra essa passagem tem a ver com a expressão "face a face". Eles argumentam que essa expressão refere-se a contemplar a Cristo "face a face" na Sua volta; portanto, os dons sobrenaturais devem continuar até a segunda vinda. Existem dois problemas com essa interpretação. Primeiro, "face a face" é locução adverbial; e como tal ela não possui complemento (30). Segundo, "face a face" está contrastando com "como em espelho". Como "face a face" é uma locução adverbial sem um complemento, a idéia de que ela se refere a Cristo só pode ser assumida ou inferida. E como Paulo vinha contrastando formas de revelação do versículo 8 até o 12 faz muito mais sentido interpretar "face a face" no sentido de clareza (compreensão), em contraste a "como em espelho, obscuramente" (incompleto ou parcial).

Há outros problemas associados com a prática carismática da "falar" em línguas. Em vez de procurarem os melhores dons (1 Co 12:31), eles buscam o dom que vem em último lugar na lista do apóstolo (12:28). Invariavelmente as pessoas "falam" em línguas sem a devida interpretação (contrariando 1 Co 14:28); a menos que esse requisito seja atendido, isso não contribui em nada para a edificação da igreja (14:4-5). A condição bíblica de se falar uma pessoa por vez é freqüentemente ignorada (14:27,30); pelo contrário, vários indivíduos falam ao mesmo tempo (essa decadência na própria ordem da igreja é indesculpável, pois "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas" (1 Co 14:32). E mais ainda, é a prática comum das igrejas carismáticas permitir que as mulheres falem no culto público (não poucas igrejas carismáticas são até pastoreadas por mulheres). As mulheres são absolutamente proibidas de falar ou ensinar na igreja, mas são ordenadas a manterem-se em silêncio (14:33-34).

"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado pata toda boa obra" (2 Tm 3:16,17). Já que temos um cânon completo, e como a Bíblia é tudo o que precisamos para a salvação, a vida e piedade, para que servem as línguas e profecias modernas? Falar em línguas era um dos sinais distintivos do apostolado. O fato histórico de que as verdadeiras línguas e profecias cessaram com o fechamento do cânon, e o fato de que as línguas e profecias modernas não têm nenhuma semelhança com o que ocorria nos dias dos apóstolos, provam que as características centrais do movimento carismático não são bíblicas.

PROFECIAS


Será que Deus continua falando à Sua Igreja através da revelação direta? Será que o ofício de profeta continua operante no corpo de Cristo hoje em dia? Os carismáticos ensinam que nós continuamos recebendo revelação direta de Deus. Muitos carismáticos se sentem desconfortáveis diante da idéia de que a profecia moderna está em pé de igualdade com às Escrituras. Por isso eles desenvolvem a noção de que a profecia neotestamentária é, de algum modo, uma profecia inferior. A fim de respondermos apropriadamente a essas questões nós precisamos responder a seguinte pergunta: "O que é profecia?"

Para refutarmos a concepção popular carismática de que a profecia do Novo Testamento é de alguma forma inferior às demais Escrituras nós precisamos examinar a descontinuidade que existe entre o profeta do Antigo e do Novo Testamento. A passagem que estabelece o padrão divino que define o ofício de profeta é Dt 18. Notem que o profeta fala as próprias palavras de Deus, seja o que for que o Senhor lhe tenha ordenado dizer.

"Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele se não cumprir, nem sucedeu, como profetizou, esta é a palavra que o Senhor não disse; não tenhas temor dele". (Dt 18:20-22).

Há dois métodos para se reconhecer um verdadeiro profeta. Primeiro, o profeta deve falar em nome do verdadeiro Deus - ou seja, o profeta deve ter uma teologia correta. Segundo, seja o que for que o profeta profetize, deve acontecer 100% de exatidão - qualquer coisa menos que isso requeria a morte por apedrejamento. Se alguém alega ter o dom da profecia, mas nunca faz uma profecia específica, através da qual esse profeta pode ser objetivamente testado, não temos absolutamente nenhuma razão para acreditarmos ou temermos esse auto-intitulado "profeta". O que concedia uma autoridade única e uma legitimidade objetiva aos profetas do Antigo Testamento era o fato de que o que eles diziam verdadeiramente acontecia. Sem o elemento específico da predição, os profetas teriam sido nada além de mestres da lei.

Esse teste do verdadeiro profeta também se aplica aos profetas do Novo Testamento, pois, definitivamente, existe uma continuidade entre o profeta do Antigo e do Novo Testamento. Após o derramamento do Espírito Santo sobre a igreja, Pedro citou o profeta Joel: "E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos, até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão." (At 2:17,18). Notem que o profeta do Novo Testamento estava envolvido exatamente com os mesmos fenômenos ao profeta do Antigo Testamento: sonhos, visões e profecia (Cf Nm 12:6). "Dessa forma temos a profecia do Antigo Testamento (formas proféticas do Antigo Testamento) adentrando a nova era neotestamentária, e como cumprimento da palavra específica de um profeta do AT. E isso está de acordo com a interpretação divinamente inspirada de Pedro sobre Joel" (31). Essa continuação da profecia do Antigo Testamento no Novo Testamento é confirmada pelo profeta neotestamentário Ágabo. Ele falou as palavras do próprio Espírito Santo. Falando as palavras de Deus, Ágabo, como os profetas do Antigo Testamento, revelou o futuro.

"Demorando-nos ali alguns dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo; e, vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando com ele seus próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus em Jerusalém farão ao dono deste cinto, e o entregarão nas mãos dos gentios." (At 21:10-11)

O fato de que o profeta neotestamentário fala as palavras diretas de Deus, e não é meramente um mestre ou pregador, é sustentado por Paulo: "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça os mistérios..." (1 Co 13:2).

A palavra mistério no Novo Testamento não tem o mesmo significado que o termo em português. Edward escreve:

"A palavra aparece 27 ou 28 vezes no Novo Testamento; principalmente nos escritos de Paulo... Ela denota o seu antigo significado de segredo revelado, não o seu sentido moderno de algo que não pode ser perscrutado ou compreendido... De longe o significado mais comum no Novo Testamento é aquele que é tão característico de Paulo, uma verdade divina, antes encoberta, agora sendo revelada pelo Evangelho... (a) Devemos notar quão próximo mistério é associado com revelação... tanto quanto palavras de significado similar... "Mistério" e "Revelação" são, de fato, termos correlatos, quase sinônimos." (32)

O Profeta revela à igreja um mistério, ou os mistérios de Deus. Ele revela algo antes desconhecido, agora revelado pela primeira vez.

Paulo diz especificamente em 1Co 14 que os profetas recebem a "revelação": "Falem apenas dois ou três e os outros julguem. Se porém vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro." (1 Co 14:30 cf v. 26).

Revelação (apokalupsis) é um descortinar de alguma coisa que antes era desconhecida; e revelação divina é a comunicação de verdades antes desconhecidas diretamente de Deus ao homem. Essa última pode ocorrer através de sonhos visões, comunicação oral ou de outro modo (Dn 2:19; 1 Co 14:26; 2 Co 12:1; Gl 1:12; Ap 1:1). (33)

O fato de que o ofício profético no Novo Testamento é tão revelador quanto o do Antigo Testamento é claramente ensinado pelo uso que Paulo faz dos termos "mistério" e "revelação". Percebam como ele utiliza os dois termos juntos em Ef 3:3-5: "...pois segundo uma revelação me foi dado conhecer o mistério conforme escrevi há pouco, resumidamente, pelo qual, quando lerdes, podeis compreender o meu discernimento no mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito,..." (34)

Dessa forma, os profetas de Deus, tanto na antiga como na nova aliança falam sob inspiração divina. Eles podiam fazer pronunciamentos plenamente autoritativos, como quando o Espírito Santo ordenou à igreja que enviasse Paulo e Barnabé como missionários. Eles podiam, por inspiração, dizer o futuro (e.g. Ágabo). Podiam falar mistérios. Os profetas podiam literalmente fornecer à igreja uma doutrina nova e autoritativa. Os apóstolos e profetas, por inspiração divina, explicavam à igreja o significado da morte de Cristo. O Espírito Santo revelou à igreja que as leis cerimoniais da antiga aliança haviam passado, e que a parede de inimizade havia sido derrubada; desse modo, Deus tem somente um povo: aqueles que estão em Cristo. Todas as diversas implicações da cruz precisam de uma explicação revelacional (inspirada pelo Espírito Santo). A razão pela qual é importante definir a natureza da profecia do Novo Testamento é porque muitos carismáticos, explícita ou implicitamente, consideram essas profecias menos revelacionais e autoritativas que o restante das Escrituras. O fato de que nem todo o pronunciamento profético foi importante ou adicionado ao Cânon (os 66 livros) não é importante para esta discussão, porque nem todos os pronunciamentos ou escritos inspirados dos apóstolos foram incluídos no Cânon (e.g. a carta perdida de Paulo à igreja de Corinto). Quando um carismático diz que muito do que um profeta do Novo Testamento faz não é prever o futuro, mas exortar, ele pode estar certo. Mas exortação profética não é apenas um conselho santo; não é somente a exposição das Escrituras; é também uma exortação inspirada e revelada pelo Espírito Santo. Ela tem a mesma autoridade das Escrituras; ela ee uma exortação "assim diz o Senhor".

Este autor freqüentou igrejas carismáticas por mais de três anos e ouviu centenas de "profecias". Contudo nenhuma vez ouviu uma nova doutrina. Na verdade, quando um "profeta" falava alguma nova doutrina, o pastor e os anciãos diziam para que ele se calasse. Nas muitas vezes que esses "profetas" ordenavam pessoas a fazerem certas coisas (e.g. "Maria, Deus me disse que você deve se casar com João") essas pessoas aprenderam rapidamente que tais exortações deviam ser recebidas com uma boa dose de cuidado! Por quê? Simplesmente porque os profetas carismáticos não merecem confiança. Eles são tão confiáveis quanto um par de dados. Portanto, até mesmo a maioria das carismáticos não levam suas profecias a sério.

Por que os carismáticos se desviam de seus próprios princípios para redefinirem a profecia como sendo algo inferior ao que ela realmente era no Novo Testamento? (35) Fundamentalmente porque a maioria dos carismáticos se dá conta de que a profecia pentecostal moderna, na verdade, não se assemelha em nada à profecia do Antigo e do Novo Testamento. Se os carismáticos não redefinissem a profecia como sendo basicamente nada mais do que "vagas" exortações espirituais, então os seus profetas estariam sujeitos a uma averiguação mais objetiva. Compare uma profecia bíblica típica com uma típica profecia carismática moderna. Elias, o tesbita, veio e profetizou ao perverso rei Acabe e a sua maligna mulher Jezabel. Notem quão específico ele foi: a família de Acabe seria dizimada (i.e. assassinada; 1 Rs 21:21). A posteridade de Acabe seria exterminada após a sua morte (vv 9). A mulher de Acabe seria comida pelos cães dentro dos muros de Jezreel (vv 23). No exato lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabote (a quem Acabe assassinou), os cães lamberiam o sangue de Acabe. Essas profecias se cumpriram perfeitamente (cf. 1 Rs 22:33-39; 2 Rs 9:32-37, 10:7-11). Depois que a última dessas profecias se cumpriu, Deus disse: "Sabei, pois, agora, que da palavra do Senhor, pronunciada contra a casa de Acabe, nada cairá em terra, porque o Senhor fez o que falou por intermédio do seu servo Elias" (2 Rs 10:10).

Agora compare a profecia de Elias com a típica "profecia" carismática: "Oh, vinde a mim meu povo. Se voltarem para mim eu o abençoarei...se achegarem-se até mim, eu os amarei e abençoarei, etc." Esse tipo vago e não específico de profecia nunca pode ser confirmado como verdadeiro, porque não contém nada especificamente relacionado como o futuro. Além disso, quando carismáticos se arriscam indo mais um pouco adiante e se tornam específicos, o que acontece? Eles estão, vez após vez, consistentemente errados.

Com literalmente milhares de "profetas" carismáticos nos dias de hoje, seria de se esperar econtrarmos ao menos alguns que pudessem passar no teste do verdadeiro profeta de Deuteronômio 18. A verdade ee que não existem mais profetas verdadeiros nos dias de hoje, porque a profecia, como as línguas, cessaram quando o Novo Testamento foi concluído. Lembremos que Deus concedeu os dons e sinais, como línguas, profecias, curas dramáticas, etc, de sorte que eles atestassem publicamente a verdade da Palavra de Deus. Por isso é que as profecias, línguas e curas no Novo Testamento eram realmente vistas e conhecidas como verdadeiras tanto por cirstãos como por incrédulos. Os inimigos de Cristo não puderam negar que Ele operava espantosos milagres e foram forçados a atribuí-los a Satanás (Mt 14:11).

O fato de uma análise empírica e objetiva da profecia carismática provar que aquilo que é chamado de profecia hoje em dia não é a mesma coisa que a profecia neotestamentária não significa, necessariamente, que as profecias cessaram. Isso quer dizer apenas que as alegações dos carismáticos de que essa prática é uma continuação do que ocorria nos dias dos apóstolos são falsas. Para provarmos que as profecias cessaram depois da morte dos apóstolos e do encerramento do Cânon (do Novo Testamento), devemos ir às Escrituras. Um texto que ensina que as línguas e profecias cessaram é 1 Co 13:8-13. Esse texto foi discutido em nossas considerações a respeito das línguas. Outro texto que prova que o ofício de profeta era fundamental e temporário é Fé 2:19-22.

"Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito."

Antes de discutirmos sobre a natureza do fundamento dos ofícios neotestamentários de apóstolo e profeta nós devemos por de lado a noção de que Paulo está se referindo aos profetas do Antigo Testamento no versículo 20. Há várias razões pelas quais o termo "profetas" definitivamente se refere aos profetas do Novo testamento. Observe que Paulo menciona primeiro os apóstolos e depois os profetas. Quando fala dos dons do Espírito Santo na igreja neotestamentária, Paulo segue um padrão consistente. Os apóstolos são sempre listados antes dos profetas do Novo Testamento. "A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar, profetas... Porventura são todos apóstolos? ou todos profetas...?" (1 Co 12:28, 29). Se Paulo estivesse se referindo aos profetas do Antigo Testamento, ele logicamente os teria citado antes dos apóstolos, e não depois deles. Segundo, o contexto do livro de Efésios mostra que Paulo está falando de profetas neotestamentários. "...no mistério de Cristo..., como agora foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas" (Ef 2:4, 5). Embora Efésios 3:5 esteja sete versículos depois de Ef 2:20, no grego ele é justamente a sentença imediata. Além do quê, a palavra grega num ("agora") não pode se referir aos profetas do Antigo Testamento porque ela se refere a uma realidade presente (i.e., quando Paulo escreveu a epístola). Terceiro, no capítulo 4 de Efésios, Paulo diz bem especificamente o que ele quer dizer com apóstolos e profetas. Ele diz que, após Cristo ter subido ao Pai, Ele concedeu dons à Sua igreja (vv. 7-8). No versículo 12 ele diz que esses dons são "para a edificação do corpo de Cristo" (i.e., a igreja do Novo Testamento). No verso 11, Paulo identifica o que são esses dons do Novo Testamento: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas." "Visto que os profetas eram dons concedidos, juntamente com os apóstolos, como conseqüência da vitoriosa ascensão de Cristo, eles deviam ser profetas do Novo Testamento." (36) Paulo menciona apóstolos e profetas três vezes nessa pequena espístola, e em cada uma delas ele obviamente quer dizer a mesma coisa: apóstolos e profetas do Novo Testamento.

Paulo diz que os ofícios neotestamentários de apóstolo e profeta eram o fundamento da igreja cristã.

Um fundamento, pela sua própria natureza ee lançado apenas uma vez, enquanto que a estrutura pode ser levantada por um longo período de tempo. Na verdade, Paulo diz qui claramente que o fundamento já foi lançado. Ele diz: "edificados sobre o fundamento (epoikodomethentes). Mas ele continua a falar do edifício que "cresce" (auxei) e que está "sendo edificado" (sunoikodomeisthe) sobre esse fundamento. (37)

A cena que Paulo coloca diante de nós é a de um alicerce já terminado, sobre o qual está a igreja de Jesus Cristo. Mas a igreja, diferentemente do alicerce, continua a crescer. O verbo "crescer" no verso 21 está no presente e demonstra que a igreja de Cristo continua a crescer nos dias de hoje.

Os ofícios de apóstolo e profeta eram unicamente para quela situação da igreja antes do Cânon ser concluído. A revelação era necessária para a produção do Novo Testamento. E antes que o Novo Testamento fosse concluído, uma revelação direta era necessária para explicar a obra de Cristo a para satisfazer às necessidades daquele momento. Imaginem como seria tentar explicar o significado da obra de Cristo sem o Novo Testamento! Após a conclusão do Cânon do Novo Testamento e da morte do último apóstolo e do último profeta, os dons revelacionais cessaram. Isso não ee somente o ensino de 1 Co 13:8-23 e Ef 2:20, é também um fato histórico.

Desde o tempo dos apóstolos até hoje, a igreja tem crido que a Bíblia é completa, eficiente, suficiente, inerrante, infalível e autoritativa. Qualquer tentativa de acrescentar algo à Bíblia, de reivindicar uma revelação adicional de Deus, tem sempre resultado em seitas, heresias, ou no enfraquecimento do corpo de Cristo. Muito embora os carismáticos neguem que eles tentam adicionar alguma coisa às Escrituras, suas posições sobre línguas proféticas, dons de profecia e revelação dizem exatamente o contrário. Ao fazerem acréscimos - ainda que involuntariamente - à revelação final de Deus, eles minam a unicidade e a autoridade da Bíblia. Novas revelações, sonhos e visões tornam-se tão autoritativos para consciência do crente quanto o livro de Romanos ou o Evangelho de João. (38)

Portanto, nós verificamos que a maioria dos carismáticos tem redefinido que aquilo que ocorria nos dias dos apóstolos. Essa redefinição antibíblica de profecia permite duas coisas aos carismáticos. Primeiro, ao fazerem exortações vagas e ao proferirem profecias não específicas (as quais facilmente poderiam ser avaliadas por qualquer crente; suas profecias generalistas não podem ser consideradas verdadeiras ou falsas), eles evitam a verificação objetiva a que estavam sujeitos os profetas bíblicos. Segundo, ao declararem que a profecia é menos revelacional e autoritativa que as Escrituras, eles podem reivindicar que não estão fazendo nenhum acréscimo às Escrituras. Temos observado que o ofício de profeta no Novo Testamento é uma continuação do mesmo ofício do Antigo Testamento. As profecias e exortações do profeta do Novo testamento eram inspiradas pelo Espírito e iguais em autoridade às Escrituras. Além do quê, a Bíblia ensina que a profecia tinha uma função distintamente fundamental na igreja devido às circunstâncias históricas (i.e. Cânon aberto). Quando o Cânon do Novo Testamento foi concluído, a profecia cessou, porque já não era mais necessária.

A descrição que demos até aqui daquilo que os carismáticos crêem com relação à profecia não retrata plenamente toda a verdade sobre quão mal as coisas estão como o movimento carismático. Uma coisa seria dizer que os carismáticos têm uns poucos "profetas" em cada igreja, proferindo exortações vagas e profecias nada específicas. Mas, na verdade, a maioria dos carismáticos crê que Deus fala diretamente a cada "crente cheio do Espírito"; crêem que Ele leva as pessoas a fazerem coisas à parte das Sagradas Escrituras. Frases comuns nos círculos carismáticos são "Deus me disse para fazer isso"; "O Espírito me levou a fazer aquilo"; "Jesus falou comigo e me disse assim". Tal modo de pensar conduz ao subjetivismo e ao misticismo; e contradiz a Palavra de Deus. Nos dias dos apóstolos, quando os dons sobrenaturais estavam sendo praticados, a revelação direta era dada somente através dos apóstolos e dos profetas (línguas e suas interpretações eram também uma forma de revelação). O apóstolo Paulo diz especificamente que nem todos possuíam o dom de línguas, e que somente alguns eram profetas (cf. 1 Co 12:30, Ef 4:11). A idéia comum em nossos dias, de que Deus dirige diretamente as pessoas ou de que Ele se comunica diretamente com elas é perigosa e antibíblica. Enquanto a maioria dos carismáticos crê na inerrância bíblica e declaram amar a Bíblia, muitos estão sendo dirigidos por sentimentos subjetivos, por intuições e experiências em vez do claro ensino da Palavra de Deus.

Nossa responsabilidade como crentes não é seguirmos nossas emoções ou impressões, mas estudarmos a Palavra de Deus e aplicá-la às nossas vidas. Tudo aquilo de que precisamos na vida pata tomar nossas decisões pode ser aprendido dos princípios bíblicos. Os crentes têm de parar de acreditar em intuições místicas, começar a aprender como inferir as verdades das Escrituras e aplicá-las em suas vidas, suas famílias, empregos, estudos, governos e tudo mais. O movimento carismático e o seu subjetivismo implícito têm causado um dano incalculável a milhares de cristãos. O autor conhece pessoalmente relatos terríveis em que crentes imaturos foram "guiados" a tomar atitudes tolas e antibíblicas (e.g., "Deus me disse para abandonar meu emprego e ir morar numa barraca"; "Deus me disse para deixar minha esposa"; "Deus me disse para investir nisso e naquilo"; etc). Se alguém lhes disser que Deus falou consigo, responda: "Mostre-me isso na Bíblia". Quando um crente lhe disser que Deus o dirigiu a fazer alguma coisa, diga a ele que prove isso com a Palavra de Deus. A nossa liberdade diante de pastores autoritários, governantes opressores, e de absurdos subjetivos é a objetiva, infalível e suficiente Palavra de Deus, a Bíblia.

SINAIS E MILAGRES


Os carismáticos acreditam que os dons e sinais miraculosos, incluindo a "cura pela fé", são normativos para os dias de hoje. Por isso, eles crêem que milagres dramáticos ainda continuam a ocorrer na igreja. O protestantismo histórico ensina que os dons sobrenaturais tiveram um propósito específico na igreja apostólica (o de autenticar o ensino dos apóstolos). Uma vez que os ensinamentos inspirados pelo Espírito sobre a pessoa e a obra de Cristo foram registrados nas Escrituras, os dons cessaram, porque já não eram mais necessários. Para determinar se os sinais e milagres ainda continuam normativos, nós precisamos responder a três perguntas: Qual é o propósito dos sinais e milagres? Esses dons cessaram após a conclusão do cânon do Novo Testamento? Os milagres que supostamente ocorrem hoje em dia são iguais aos que aconteceram nos dias de Cristo e dos apóstolos?

A Bíblia ensina que os sinais são eventos públicos, visíveis e miraculosos. O seu propósito não era o de proporcionar aos crentes (39) cultos eletrizantes ou uma experiência maravilhosa, mas de conferir autenticidade à mensagem divina, para provar publicamente que aquele que estava operando milagres fora enviado de Deus. "Em Êxodo 4:5 Deus disse a Moisés que esse operasse milagres 'para que creiam que te apareceu o SENHOR, Deus de teus pais.' Dessa forma os milagres atestaram a missão divina de Moiséis". (40)

Elias foi enviado a morar com uma viúva em Sarepta (1 Rs 17). Depois do filho da viúva estar morto Elias orou a Deus e Deus ressuscitou o menino. Qual foi a reação da viúva? "Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra da tua boca é verdade" (v 24). Quando, na Festa da Dedicação, perguntaram a Jesus se Ele era o Cristo, Ele respondeu: "Já vo-lo disse e não credes. As obras que eu faço em nome do meu Pai, testificam a meu respeito" (Jo 10:25). Nicodemus disse a Cristo: "Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (Jo 3:2). O cego de nascença censurou os fariseus por esses não saberem que Jesus havia sido enviado por Deus: "Nisto é de se estranhar que vós não saibais donde ele é, e contudo me abriu os olhos!... Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito" (Jo 9:30, 33; cf Mt 9:6; 14:33; At 2:22). Os sinais que Jesus fazia autenticavam tanto Ele próprio como sua mensagem. O Seu maior sinal (milagre) foi, é claro, Sua ressurreição dentre os mortos (Mt 12:38-40).

O apóstolo Paulo disse aos coríntios que os milagres que ele operava provavam sua autoridade apostólica. "Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos" (2 Co 12:12). Se milagres fossem algo comum nos dias de Paulo, tal afirmação não provaria nada. Milagres nunca foram um fim em si mesmos, mas autenticavam a mensagem apostólica na igreja do primeiro século. Quando Paulo e Barnabé pregavam, o Senhor "confirmava a palavra da Sua graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e milagres" (At 14:3; Barnabé é chamado apóstolo no versículo 14).

O autor de Hebreus pergunta "Como escaparemos nós se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuições do Espírito Santo segundo a Sua vontade" (Hb 2:3-4). O texto se refere àqueles que ouviram a Cristo (os apóstolos). O pré-requisito para ser um apóstolo era ter visto a Cristo ressurreto (At 1:21-22; cf 1 Co 9:1). Paulo disse que Cristo ressurreto foi visto por "Cefas, e depois, aos doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez... Depois foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim..." (1 Co 15:7-8). A se o propósito dos sinais era de autenticar os apóstolos como verdadeiros mensageiros de Deus, então, agora que os apóstolos já morreram, eles não são mais necessários; eles já cumpriram o seu propósito. E se um desses curadores modernos disser que viu Cristo ressuscitado ele é um mentiroso.

B. B. Warfield fez intensivo estudo histórico sobre milagres e concluiu que eles realmente cessaram após a morte dos apóstolos (42). Ele observou que na proporção que as heresias e superstições cresciam na igreja papista, cresciam também os "milagres". Tais "milagres" eram obviamente fraudulentos, porque eram associados com heresias, idolatrias e superstições grosseiras (e.g., ser aspergido com o leite de Maria, tocar um pedaço da cruz, ou colocar elementos da eucaristia na testa das pessoas). A Reforma, com sua sólida Teologia bíblica, descartou todos esses absurdos e conduziu o povo de volta à pura, infalível e suficiente Palavra de Deus. Infelizmente, o Movimento Carismático está deixando a pureza das doutrinas da Reforma e retornando ao subjetivismo, misticismo e à superstição de Roma.

O fato de que as línguas estiveram ausentes durante mil e oitocentos anos e o fato de que os dons de cura que os apóstolos possuíam não se evidenciaram mais depois que eles morreram certamente deveria nos fazer parar para pensar. O testemunho da História da Igreja parece ser de que o Espírito não continuou a guiar a verdadeira igreja a toda a verdade. Se fosse para que esses dons miraculosos permanecessem na igreja, por que então eles desapareceriam? Se esses dons são tão essenciais para a vida da igreja, por que Deus os negaria ao Seu povo? A conclusão parece inevitável: esses dons nunca tiveram o propósito de permanecer na igreja. (43)

Se verdadeiros e fantásticos sinais e milagres continuam ocorrendo hoje em dia eles deveriam ser fácil e objetivamente comprovados. Uma breve comparação entre o dom de cura neotestamentário e o praticado pelos carismáticos provará que os falsos curadores da fé carismáticos são uma fraude. Jesus e os apóstolos curaram muitas pessoas com uma palavra ou um toque (e.g., Mt 8:6,7; At 9:32-35). Eles curavam instantaneamente (Mt 8:13; Mc 5:29; At 3:2-8). Eles curavam completamente, não parcialmente (Jo 9:7; At 9:34). Eles eram capazes de curar qualquer um que cresse (Lc 4:40; At 5:12-16; 28:9). Eram capazes de curar doenças orgânicas, corpos aleijados e defeitos de nascença (Lc 6:6, 17; Jo 9:7; At 3:6-8; 5:16; 8:7). Eles expulsavam demônios (Lc 10:17; 13:32; At 10:38) e ressuscitavam os mortos (Lc 7:11; Mc 5:22-24, 35-43; Jo 11:43, 44; At 9:26-42; 20:9-12).

Há uma série de discrepâncias entre os milagres de cura da Bíblia e o que supostamente está ocorrendo hoje em dia. Muitas curas operadas por Jesus e os apóstolos aconteceram em lugares públicos, diante de incrédulos. Eles não faziam nenhum culto de libertação, curavam as pessoas ali mesmo, ao ar livre, até mesmo na frente de seus inimigos (e.g., Lc 5:22-26; At 3:4-10). Você já viu algum desses modernos curadores da fé ir até um grande hospital e curar os doentes? Já viu algum curar alguém nas escadarias da prefeitura, em um shopping center ou em um parque público? Se esses curadores da fé têm a mesma capacidade que os apóstolos, por que eles operam suas "curas" nas igrejas, diante de pessoas que já crêem? Sinais são para os incrédulos; crentes não precisam ser convencidos de que Jesus é o Crsito (eles já crêem nisso).

Cristo e os apóstolos curaram pessoas que geralmente eram conhecidas por sofrerem de alguma enfermidade. Pedro curou um homem coxo de "nascença" que mendigava diariamente no templo. Depois disso as pessoas "reconheceram ser ele o mesmo que esmolava, assentado à porta Formosa do templo; e se encheram de assombro, por isso que lhe acontecera" (At 3:10). Cristo curou um homem que não havia trinta e oito anos, o qual se encontrava diariamente no tanque chamado Betesda (Jo 5:2-15). Se você for a um típico culto de cura pela fé, o que verá ali? Um lugar repleto de pessoas totalmente desconhecidas. Qualquer uma poderia jogar fora um par de muletas e ninguém saberia realmente se uma cura acontecera ou não. Por que os curadores modernos não fazem o que Cristo e os apóstolos fizeram e operam uma cura pública em alguém que todos sabem que é aleijado? A resposta é simples: porque não podem!

Aqueles que alegam ter o dom da cura parecem nunca sair de suas tendas, seus tabernáculos ou seus estúdios de televisão. Parece que eles sempre precisam exercer o seu dom em um ambiente controlado, encenar suas atitudes, e ter tudo acontecendo conforme programado. Por que não ouvimos mais do dom de curar sendo usado nos corredores dos hospitais? Por que os curadores não utilizam seus dons em lugares como a Índia ou Bangladesh? Por que eles não estão nas ruas onde se encontram multidões de pessoas afligidas por enfermidades? Isso não acontece. Por quê? Porque aqueles que alegam ter o dom da cura na verdade não o possuem. (44)

Se curas milagrosas ainda continuassem a ocorrer hoje em dia, seria muito fácil comprová-las. Qualquer um poderia levar uma filmadora portátil a uma cruzada de cura e filmar o milagre para que todos vejam. Mas por que isso não acontece? Porque as supostas curas que acontecem hoje em dia não provam nada. As curas tipicamente operadas pelos carismáticos tratam de dor nas costas, hemorróidas, pessoas com uma perna mais longa que a outra (não com meio metro de diferença, mas apenas um centímetro), dores de cabeça, etc. Cristo restaurou a mão de um homem que estava sem vida e ressequida; a mão "ficou sã como a outra" bem diante dos inimigos de Cristo (Lc 6:10). Eles não puderam negar o milagre. Em outra ocasião, Jesus curou a orelha de um homem, a qual havia sido cortada, bem na frente de seus inimigos (Lc 22:51, 52). Será que os curadores modernos de hoje estão curando membros amputados? Claro que não. Será que você pode ir a uma cruzada de cura e ver uma mão ressequida sendo restaurada bem diante dos seus olhos? Não, isso não acontece. Se os carismáticos curassem pernas aleijadas, mãos ressequidas, orelhas cortadas fora, olhos cegos, ouvidos surdos, paralisia, hemorragias, etc, como fizeram Cristo e os apóstolos, eles seriam manchete nos noticiários da noite. Infelizmente, os únicos curadores pela fé do movimento carismático que aparecem nos noticiários estão ali por fraude, adultério, roubo, prostituição e coisas do tipo.

Cristo e os apóstolos ressuscitaram mortos. Jesus ressuscitou o filho de uma viúva, qua já estava no caixão; após o acontecido, a notícia do que Cristo havia feito "divulgou-se por toda a Judéia e por toda a circunvizinhança" (Lc 7:11-17). Ele trouxe à vida a filha de um dos principais da sinagoga (Mc 5:35-43). Lázaro estava morto havia quatro dias e já começava a apodrecer. Quando Jesus "clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!", Lázaro ressucitou dos mortos diante de muitos judeus (Jo 11:43-45). Paulo ressuscitou o jovem Êutico que havia morrido ao cair de uma janela (At 20:9-12). Ele provavelmente sofreu traumatismo craniano, teve os ossos quebrados e sérios danos internos, no entanto foi curado completamente num instante. O apóstolo Pedro ressuscitou a piedosa viúva Dorcas (At 9:36-42).

Será que os "curadores da fé" estão ressuscitando mortos? Será que alguma vez eles já pararam no local de um acidente e trouxeram corpos despedaçados à vida, como Paulo dez com Êutico? Será que já se dirigiram até um caixão durante um funeral e simplesmente com suas palavras trouxeram o morto de volta à vida? "É interessante notar que aqueles que alegam possuir o dom da cura hoje em dia não gastam muito tempo em velórios e funerais. A razão é óbvia" (MacArthur, p. 145). Quando, nos programas de televisão, aparecem estórias de pessoas que supostamente morreram e retornaram à vida, essas estórias não podem ser comprovadas. Se os curadores carismáticos pudessem ressuscitar os mortos, como Cristo e os apóstolos, eles poderiam provar isso fazendo-o diante de um grande número de testemunhas.


CONCLUSÃO


A Bíblia ensina que os dons, sinais e milagres, serviram para um propósito determinado; uma vez que ele foi cumprido, os dons cessaram. As línguas modernas, as profecias e curas pela fé não se parecem em nada com o que aconteceu nos dias de Cristo e dos apóstolos. O testemunho objetivo da História é de que esses dons cessaram após o encerramento do cânon do Novo Testamento. Cristo e os apóstolos operaram seus milagres em público, até mesmo diante de seus inimigos. Nós desafiamos nossos irmãos carismáticos a fazerem o mesmo e provarem ao mundo e aos crentes não-carismáticos que esses dons são verdadeiros. Até que venham a existir evidências bíblicas e comprobatórias que sustentem as reivindicações carismáticas, nós devemos considerar as práticas carismáticas como enganosas e fraudulentas (2 Co 13:1). Ainda que creiamos que os "curadores da fé" de nosso dias vivem enganado a si mesmos e (deliberadamente ou não) cometendo fraudes, nós também cremos que Deus cura o seu povo, atendendo suas orações. Se você está freqüentando uma igreja carismática, sinta-se exortado a deixá-la e a freqüentar uma igreja que seja centrada na verdade revelada nas Escrituras. Deus não se impressiona com os grandes números, entretenimento tolo e com os falsos milagres dos pregadores carismáticos. Ele quer sim que você freqüente uma igreja que ensine a verdade e O adore da maneira que Ele determinou na Sua Palavra.







* O autor é Mestre em Divindade pelo Reformed Episcopal Seminary, Philadelphia, USA - Bacharel em Artes, com honras, pela Universidade de Temple (Concentração em História), Philadelphia, USA. Iniciou vários programas de evangelização Reformada; Forum de debates Reformado por TV a cabo; Pastor da Chalcedon Christian Church - Igreja Presbiteriana Reformada (USA), MI. Autor de vários artigos e livros teológicos entre eles "Sola Scriptura and Regulative Principle of Worship" (no prelo); "O Modernismo e a Inerrância Bíblica"; "O Movimento Carismático e as Novas Revelações do Espírito"; Sola Scriptura e O Princípio Regulador do Culto (no prelo).



NOTAS

(1) - As referências bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida.

(2) - Anthony A. Hoekema, Línguas e Batismo do Espírito: Uma Avaliação Bíblica e Teológica (Toungues and Spirit Baptism: A Biblical and Theological Evaluation).

(3) - O sentido fundamental do aoristo é denotar uma ação simplesmente quando ela ocorre, sem fazer referência ao seu progresso. Ele apresenta a ação ou evento como um "ponto", por isso é chamado "pontiliar" (H. E. Dana and Julius R. Mntey, Manual de Gramática do Grego Neotestamentário - A Manual Grammar of the Greek New Testament - (Macmillan, 1969 {1927}, p. 193).

(4) - John F. MacArthur, Jr., Os Carismáticos: Uma Perspecitiva Doutrinária - The Charismatics: A Doctrinal Perspective - (Grand Repids: Zondervan, 1978), p. 99.

(5) - MacArthur, p. 101.

(6) - Hoekema, p. 21.

(7) - Todas as ocorrências usam o mesmo termo grego, en.

(8) - Richard B. Gaffin, Jr., Perspectivas sobre o Pentecoste: Ensino do Novo Testamento sobre os Dons do Dom (Perspectives on Pentecost: New Testament Teaching on the Gifts of the on Gift - Philipsburg, N.J.: Presbiterian and Reformed, 1979), p. 31.

(9) - Hoekema, p. 26 (cf. Efésios 1:13)

(10) - Gaffin, p. 33-34. Cf "...Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-se purificado por meio da lavagem de água pela palavra..." (Ef 5:25,26)

(11) - Gaffin, p. 19-20.

(12) - George M. Marsden, o Fundamentalismo e a Cultura Americana: A formação do Evangelicalismo do Século Vinte, 1870-1925 (Fundamentalism and American Culture: The Shaping of Twentieth Century Evangelicalism, 1870-1925) (New York: Oxford, 1980), p. 93.

(13) - A expressão "batismo do Espírito Santo", comumente usada pelos carismáticos, não é bíblica. A Bíblia sempre utiliza a expressão batismo "no" ou "com o" (grego: en) Espírito Santo. Isso porque não é o Espírito Santo quem batiza. É Cristo quem batiza com o Espírito Santo. Ele tem esse privilégio como o Mediador divino-humano, como parte da Sua glorificação da parte do Pai.

(14) - Robert D. Brinsmead, "A Justificação pela Fé e o Movimento Carismático" (Justification by Faith and the Charismatic Movement), Present Truth (edição especial, 1972), p.7.

(15) - Essa é a posição oficial das Assembleias de Deus, por exemplo: "O batismo dos crentes no Espírito Santo é atestado pelo sinal físico inicial do falar em outras línguas conquanto o Espírito de Deus lhes forneça expressão (Constituição do Conselho Geral das Assembleias de Deus {Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1983}, V: 8). A noção de que cada um que recebe o batismo no Espírito deve evidenciá-lo através do falar em línguas contradiz claramente a Bíblia. Paulo pergunta, "...falam todos em outras línguas?" (1 Co 12:30); a construção desta pergunta de retórica necessita de um não como resposta. Mais adiante ele diz: "Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas" (1 Co 14:5). Obviamente que nem todos na igreja de Corinto falavam em línguas. De acordo com algumas pressuposições carismáticas, esperar-se-ia que Paulo desse instruções aos coríntios sobre como receber o batismo do Espírito, a fim de que todos pudessem falar em línguas. A verdade é que o dom de línguas, como a profecia, era um dom somente concedido a alguns.

(16) - MacArthur, p. 159.

(17) - Gromacki, p. 61.

(18) - Ibid., p. 62.

(19) - Isso é evidente pela citação do Antigo Testamento (Is 28:11). "É provavelmente correto observar aqui uma referência à chegada dos assírios, cuja línguas os judeus, naturalmente, não entendiam" (Edward J. Young, O Livro de Isaías (The Book of Isaiah) {Grand Rapids: Eermans, 1969}, 2:227).

(20) - Gaffin, pp. 78-79.


[cadê as notas 21 e 22 ???]

(23) - Frederic Luis Godet, Comentário em 1 Coríntios (Commentary on First Corinthians) (Edimburgh, T & T. Clark, 1889), 663.

(24) - O que, então Paulo quer dizer com (1 Co 14:18)? Será que ele quer dizer que orava em línguas em secreto mais do que qualquer outro? Não. Paulo falava em línguas mais do que qualquer outro porque ele estava constantemente pregando o Evangelho em novas áreas onde haviam diferentes línguas e dialetos. Dessa forma, Paulo, como os outros apóstolos em Atos 2, necessitava do Dom de línguas como um sinal para os incrédulos (cf. 1 Co 14:22). Se Paulo tivesse que aprender uma nova língua ou dialeto cada vez que ele chegasse a uma província ou país diferente, o progresso do Evangelho teria sido grandemente demorado.

(25) - "É igualmente claro que oudeis ackuse não significava que as línguas eram inaudíveis, ou que ninguém as escutava, mas que ninguém as achava inteligíveis. Alguém podia, da mesma forma, nnao ter ouvido nada". (Archibald Robertson e Alfred Plummer, Um Comentário Crítico e Exegético na Primeira Epístola aos Coríntios, p. 306).

(26) - Gromacki, p. 65.

(27) - Ibid., p. 67.

(28) - Os carismáticos são notórios por sua teologia agüada, rasa e até mesmo anti-bíblica. Será que isso não expressa bem o fato de que todas as grandes obras teológicas (incluindo obras sobre o Espírito Santo) escritas desde o começo da Reforma foram escritas por não-carismáticos: Martinho Lutero, João Calvino, Zwinglio, John Knox, Bucer, George Gillespie, Samuel Rutherford, Jonathan Edwards, John Owen, Charles Hodge, John Murray, etc? O Espírito Santo é o Espírito da verdade. Se os teólogos carismáticos possuem uma bênção do Espírito maior do que os outros teólogos, por que, então suas obras são agüadas, inferiores e até mesmo anti-bíblicas?

(29) - Kenneth L. Gentry, Jr., O Dom Carismático da Profecia: Uma Resposta Reformada a Wayne Gruden (Menphis: Footstool, 1989). p. 54.

[cadê a nota 30 ???]

(31) - Gentry, p.8.

(32) - D. Miall Edwards, "Mistério", James Orr, ed. Enciclopédia Bíblica Internacional (International Standard Bible Encyclopedia), (Grand Rapids: Eerdmans, 1956), 3:2104-2105, citado por Gentry, p.24.

(33) - John McClintock e James Strong, Enciclopédia de Literatura Bíblica, Teológica e Exegética (Cyclopaedia od Biblical, Theological, and Exegetical Literature), (New York, 1879), 8:1061.

(34) - "Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres... E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: 'Separai-me agora a Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.' " (At 13:1-2). Os profetas não somente falam as próprias palavras de Deus, mas as suas declarações inspiradas contêm a plena autoridade das Escrituras. O Espírito Santo, falando através dos profetas, dá uma ordem divina. Os discípulos não tinham outra alternativa, senão obedecer.

(35) - A passagem de Atos 21:10-11 é utilizada como principal prova textual por aqueles que defendem que a profecia neotestamentária é diferente da profecia do Antigo Testamento; de que ela é uma forma interior de revelação, onde a falta de exatidão (i.e. enganos) é permitida e é até mesmo a regra. Eles argumentam que ambas as predições de Ágabo não foram exatamente cumpridas: Paulo não foi "amarrado" pelos Judeus e que eles não o "entregaram nas mãos dos gentios". Essa opinião, no entanto, é demasiadamente simplista e obviamente antibíblica por diversas razões. Primeiro, um exame cuidadoso da profecia do Antigo Testamento revela que muitas de suas profecias podiam ser desconsideradas, se fossem tratadas da mesma maneira que a profecia de Ágabo. João Batista não é literalmente Elias (cf. Mt 4:5, Mt 17:11-12). Segundo, a inerrância bíblica seria arruinada se o mesmo tratamento dado à profecia de Ágabo por alguns eruditos carismáticos fosse aplicado às Escrituras. Pedro disse que Judas comprou um campo com a prata que recebeu por haver traído a Cristo (At 1:18), no entanto Mt 27:3-10 menciona que os principais sacerdotes compraram o campo com o seu dinheiro, após a sua morte. Em Atos é dito repetidamente que os judeus crucificaram a Cristo, no entanto os evangelhos deixam claro que foram os romanos que na verdade o fizeram. Terceiro, o texto diz, especificamente, "Isto diz o Espírito Santo" (21:11); isso é o equivalente ao "Assim diz o Senhor", do Antigo Testamento. A idéia de que o Espírito Santo pode mentir ou se enganar é blasfema, pois "é impossível que Deus minta" (Hb 6:18). Alguém poderia argumentar que Ágabo era um metiroso, então Paulo o teria repreendido. É óbvio que Paulo e a igreja judaica não consideravam as profecias de Ágabo como imprecisas, ou Ágabo como mentiroso. Quarto, não há dúvidas quanto a que o ponto central da profecia (que Paulo seria entregue nas mãos dos gentios) aconteceu perfeitamente. "A profecia de Ágabo em Atos 21 foi de fato cumprida em seu ponto fundamental. Paulo foi preso por causa da resistência dos judeus a ele (cf. 21:27-31, 35). Os romanos não o teriam amarrado fisicamente, se os judeus não tivessem provocado o tumulto que resultou com a sua prisão" (Kenneth L. Gentry, Jr., O Dom Carismático da Profecia - The Charismatic Gift of Prophecy, p.43). O tratamento que os carismáticos dão a essa passagem é como catar palha ao vento.

(36) - Gentry, p. 28.

(37) - Ibid.

(38) - MacArthur, p. 25.

(39) - Os milagres operados por Cristo e os apóstolos não aconteceram em reuniões de avivamento ou em cultos. A maioria dos milagres registrados no Novo Testamento foi feita ao ar livre (em público). Os poucos milagres que ocorreram em locais mais reservados não se deram na igreja, mas na casa das pessoas (e.g., filha de Jairo; Dorcas). O único registro de uma cura milagrosa ocorrida durante um culto na igreja primitiva está em At 20:712. Êutico cochilou durante o discurso de Paulo e caiu três andares abaixo, vindo a falecer. Paulo o curou no mesmo local onde caíra morto e depois o trouxe de volta ao culto. Não existe nenhum precedente bíblico, qualquer que seja, para os modernos cultos de cura conduzidos pelos carismáticos hoje em dia.

(40) - Gordon Clark, "Milagres", na Enciclopédia Bíblica Ilustrada (Merril C. Tenney, ed. Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible) (Grand Rapids: Zondervan, 1975) 4:244.

(41) - Os milagres não aparecem arbitrariamente nas Escrituras. Eles estão ligados aos principais eventos da história da salvação de Israel. Existiram três grandes períodos de sinais na Bíblia. O primeiro foi durante o período do Egito e a conquista de Canaã. Os sinais autenticaram Moisés e Josué perante o mundo pagão e o povo de Deus. Aquela foi uma grande atividade revelacional (e.g., os livros de Moisés). O segundo período compreendeu os ministérios de Elias e Eliseu. O ministério de Elias está situado no início do grande período profético. Os profetas explicavam a lei e revelavam o Messias que havia de vir. O terceiro grande período de milagres e atividades revelacionais foi durante os ministérios de Cristo e dos apóstolos. Os apóstolos explicavam às pessoas a obra de Cristo pelo Espírito Santo. Cristo é o fim e o centro de toda a revelação. "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas..." (Hb 1:1-2).

(42) - Banjemin B. Warfield, Falsos Milagres (Counterfeit Miracles) (New York: Scribners, 1918).

(43) - Hoekema, p65. Outra pergunta precisa ser feita: Por que nenhum dos grandes reformadores protestantes, como Lutero, Calvino, ou Knox exibiram tais dons? Esses homens foram usados por Deus para devolver o verdadeiro Evangelho a um mundo entenebrecido pela heresia papal. Eles arriscaram suas vidas, e, através de seus esforços, metade da Europa foi convertida a Cristo. Será que faz sentido que Deus ignorasse os reformadores e concedesse dons miraculosos a pessoas de doutrinas heréticas, como Charles F. Parham, Agnes Ozman e W. J. Seymour? Será que o Espírito da verdade autentica hereges?

(44) - MacArthur, p. 134. O autor foi pessoalmente a mais de cem cultos e cruzadas de cura. É fato significativo que quase todos os modernos "curadores da fé" operem seus milagres com base na chamada "palavra do conhecimento". O "curador da fé" fica de pé no palco e diz: "Tem no auditório alguém que sofre de dor nas costas. Quem quer que você seja, Deus o está curando agora", ou "Venha até a frente, Deus irá lhe curar agora mesmo". Se o curador usar a segunda opção ele colocará as mãos sobre a pessoas "doente", dirá que ela está curada e a mandará de volta ao seu lugar. Na televisão, esses curadores da fé utilizam essa "palavra do conhecimento" para curar pessoas a milhares de quilômetros de distância. Eles conseguem até curar pessoas que assistem videotapes ou reprises. Espantoso! Há somente um problema com a técnica da "palavra do conhecimento" utilizada por esses curadores: não existe a mínima evidência bíblica de que Cristo e os apóstolos alguma vez usaram esse método de cura. A técnica da "palavra do conhecimento" é um fenômeno do século vinte. Em uma grande igreja ou auditório, qualquer um pode dizer: "Alguém no auditório tem dor nas costas", e estar certo. Por quê? Porque dor nas costas, hemorróidas, problemas intestinais, etc, são comuns. A técnica da "palavra do conhecimento" é antibíblica e uma completa fraude. Se é Deus quem está fornecendo a esses homens informações sobre alguém enfermo no auditório, por que essas informações são tão vagas? Deus sabe todas as coisas. Por que o curador da fé não diz: "João Oliveira, você está sofrendo de dor na região lombar, venha até a frente e seja curado"? A informação é vaga porque ela não vem de Deus. Dois conhecidos curadores da fé que deram nomes, endereços e diagnósticos precisos foram, ambos, desmascarados. Suas esposas estavam por detrás dos bastidores fornecendo-lhes as informações através de um sistema de rádio. Se Deus pode dar a um profeta a informação exata quinhentos anos antes do fato acontecer, será que Ele não podia dizer a Pat Robertson o nome da pessoa curada de hemorróidas em Dallas, no Texas?


Nota do tradutor [infelizmente, o nome não chegou a solascriptura-tt.org]:
A) Ver Apocalipse 1:12-20
B) Ver Mateus 12:9-14; Marcos 3:1-6 e Lucas 6:6-11


Notas de solascriptura-tt.org:
1 - A AV (King James Bible) NÃO está errada em "Have ye received the Holy Ghost SINCE ye believed?", pois, estudando o contexto de toda a Bíblia, e estudando os bons dicionários de Inglês, particularmente dos séculos 16 e 17, todos entendemos que "since", aí, tem que ter o sentido "when" ou o sentido "in view of the fact that", ou "because" (vide bons dicionárfios), não o sentido usual "desde que, após o tempo em que".
2 - Recusamos a Almeida Revista e Atualizada (ver http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-Traducoes/AAlmeidaAtualizadaExposta-Helio.htm ) e todas as Bíblias baseadas no Texto Alexandrino (ver http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-Traducoes/VersoesModernasDaBiblia-Cloud-Livro.htm), e continuamos com a Almeida da Reforma (1681/1753) e sua fiel herdeira, a ACF Almeida Corrigida Fiel (ver http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-PreservacaoTT/SoTREhAPuraPalavraDeDeus-Helio.htm ).




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