Não por amor às almas

Pr. Takayoshi Katagiri, carta eletrônica de março.2001


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A tendência natural do ser humano, até mesmo em decorrência do instinto de sobrevivência, é ser egoísta e egocêntrico. Os seres humanos são maus, perversos, egoístas e ingratos. Amar é assumir o risco de sofrer uma decepção. O que, quase sempre, ocorre.

A Bíblia está cheia de situações em que pessoas mentiram, enganaram, violentaram, traíram, voltaram atrás em suas decisões e propósitos. O próprio Jesus, a Bíblia diz que não se confiava aos seus discípulos, porque lhes conhecia o coração:
24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; 25 E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem. (João 2:24-25)

E neste mundo de pessoas falsas, egocêntricas, egoístas e ingratas, nós, obreiros da casa do Senhor, temos que fazer nossa obra e obra de Deus.

Existem muitos obreiros (ministros da palavra e do louvor, líderes e dirigentes, músicos, cantores, professores) que desistiram da obra. Cansaram-se de sacrificar a si e às suas famílias pela obra de Deus. Lançaram a mão no arado, e esperaram frutos. Frutos que não vieram do modo como esperavam. Queriam que as pessoas viessem, e se convertessem de seus maus caminhos, e mudassem o seu comportamento. Mas elas não vieram. E se vieram, não se converteram de seus maus caminhos. E se se converteram de seus maus caminhos, não mudaram o seu comportamento. Continuaram egoístas, egocêntricas e... ingratas. Não reconheceram o trabalho que estava sendo feito por causa delas e para elas. E elas continuaram preocupadas com o seu próprio penteado, e com os seus próprios sapatos. Continuaram desconfiadas dos propósitos dos obreiros, acreditando que eles (os obreiros) estavam fazendo a obra por egoísmo, ou vaidade. Então, estes obreiros desistiram da obra, e, não raras vezes, do próprio Caminho de Deus... [...] Deixaram de militar pelo exército de Deus [...].

Estas pessoas são as que deram ouvidos ao conselho dos ímpios (Salmo 1º) quando estes disseram: "você é bobo; deixa de ser explorado por todo mundo; se matando por um bando de egoístas que não vai reconhecer teus esforços; se sacrificando por gente que não merece compaixão", ou coisas do gênero.

Houve um profeta na Bíblia que quase desistiu, ao ver que o povo não atendia ao clamor do Senhor. Ele externou a sua decepção dizendo:
Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR? (Isaías 53:1)
O amor humano (fraternal) exige retorno. Se nós amamos alguém, e essa pessoa não nos faz sentir amados, o nosso amor vai definhar-se até acabar. Não raras vezes, poderá transformar-se em ódio e amargor.

Sabe, o fato de sermos participantes de uma das igrejas de Jesus Cristo, não nos torna super-humanos; não nos torna sobre- humanos. Continuamos sendo apenas... humanos. Sujeitos às mesmas falhas e às mesmas vicissitudes comuns ao mais comum dos seres humanos (Atos 10:26 e 14:15).

É por isso que a obra de Deus nunca pode ser feito por amor às almas. As almas dos seres humanos são ingratas, perversas, egocêntricas. E não merecem ser amadas. Nós, humanos, não merecemos ser amados. É relativamente comum vermos sociedades desfeitas cujos sócios reclamam que só tiveram prejuízo com a sociedade. Inclusive quando é uma sociedade conjugal. Os separados reclamam que fizeram tudo, tudo que puderam fazer pelo cônjuge, mas não foi o suficiente, e não receberam o que deveriam receber, ou, pelo menos, o que mereciam ter recebido.

Por mais que você se doe, e se sacrifique por alguém, essa pessoa acreditará que não recebeu tudo que poderia ou deveria ter recebido...

É por isso que a obra de Deus nunca pode ser feita por amor às almas. As almas, repita-se, não merecem ser amadas porque são mesquinhas e egoístas.

Mas... se a obra não pode ser feita por amor às almas, por quê fazer? Qual a motivação, a razão e o impulso que deve fundamentar o nosso trabalho na seara do Senhor? O amor ao nosso Deus, a submissão ao seu mandamento, o desejo de fazer o que é aprazível aos olhos de nosso Deus.

Se nós fizermos a obra de Deus por amor às almas, mais cedo ou mais tarde vamos acabar desistindo. Seremos traídos, abandonados à nossa próprias sorte. Desprezados por aqueles a quem devotamos nossa vida e nossas forças.

Estarei sendo pessimista em minhas palavras? A experiência tem demonstrado que não. Infelizmente.

Por causa disto, e para evitar um sofrimento muito grande, uma frustração e uma decepção que poderá tirá-lo da obra e do caminho do Senhor, espere e prepare-se para o pior.

Quando nós fazemos a obra por amor ao Senhor nosso Deus, não importa se elas (as almas) venham ou não. Não importa se acreditam ou não. Não importa se reconhecem ou não os nossos esforços. O que importa é que o Senhor nosso Deus quer que nós continuemos na obra, fazendo o que manda a sua Palavra.

O desânimo é decorrente do passado. O medo é decorrente do futuro. As pessoas olham para o passado, e vendo parcos e ralos frutos, se desanimam. Como ocorreu com Moisés, sendo que no alto de seu desânimo, pediu que o Senhor o matasse, pois já não suportava a incredulidade e o egocentrismo do povo que saiu do Egito (Números 11:1-15).

O medo é sempre em decorrência do futuro. Não temos mais medo do que já aconteceu. Mas sim do que ainda pode nos acontecer no futuro. Às vezes temos medo que o passado se repita. O servo mau, que escondeu o talento, a Bíblia diz que ele teve medo de perder o que tinha sido confiado pelo seu senhor,e escondeu o seu talento. E foi condenado por isso (Mateus 25:25-26).

Se olharmos para o passado, podemos ficar desanimados. Se olharmos para o futuro, podemos ficar com medo. Em ambas as situações, podemos deixar de fazer a obra do Senhor, porque as almas dos seres humanos não merecem nosso amor.

Repita-se por necessário. Nós não merecemos sermos amados. Somos mesquinhos e egoístas.

A obra de Deus deve ser feita sempre por amor ao Senhor nosso Deus. Não importa se as pessoas vêm ou não, se acreditam ou não. Importa que nosso Deus está olhando nossa obra, e se alegrando com ela (I Coríntios 15:58).

Por outro lado, não podemos cair na linha legalista e ficarmos com raiva das pessoas que não atendem aos nossos esforços e dizer: "já fiz o que me competia fazer. Se você for condenado ao inferno (tomara que seja), será por sua própria culpa". Foi o que aconteceu com o missionário Jonas. Ele ficou com raiva porque os cidadãos de Nínive, segundo o seu ponto de vista, mereciam ser queimados, destruídos, extirpados de sobre a terra. Jesus, mesmo no momento em que estava dando a sua vida pela vida das pessoas, estas ainda debochavam, desprezavam e humilhavam a Jesus. Este não ficou com raiva, e nem arrependido do que estava fazendo, mas clamou ao Senhor dizendo: "...Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. ... (Lucas 23:34).

A obra de Deus nunca pode ser feita por amor às almas, mas por amor ao Senhor nosso Deus. O Senhor quer que continuemos pregando, cantando, tocando instrumentos, ensinando, ajudando, edificando a Igreja e... as almas. Mesmo que elas não nos reconheçam, não nos agradeçam, não nos ajudem.

A nossa obra tem recompensa.
[Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor. (1 Coríntios 15:58)]




(Hélio de M. Silva selecionou partes da carta original, que pode ser obtida, completa, de katagiri@nutecnet.com.br; Reticências [...] indicam omissões por Hélio; Colchetes [] indicam pequenas inserções, principalmente de versículos).


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