Capítulo 8. O Novo Testamento Rejeita o Premilenismo Futurista?

 

John MacArthur

 

Há vários anos o termo “newspaper exegesis” (‘exegese periódica’) foi cunhado e usado como argumento indigno contra o Premilenismo Futurista.[2] A caricatura mostrava os estudiosos do Premilenismo Futurista com a Bíblia em uma das mãos e a última edição do citado jornal na outra.

Ler os eventos a partir da Bíblia e interpretá-los como acuradamente escriturísticos representa uma séria acusação da má hermenêutica e exegese na prática. Neste capítulo, perceberemos que esta acusação não tem nenhum efeito sobre a vasta maioria dos aderentes do Premilenismo Futurista. Ao contrário, será demonstrado que a negligência na interpretação realmente caracteriza as outras visões escatológicas, no sentido de que elas, sem garantias bíblicas, lêem o Novo Testamento no Antigo, o que resulta numa escatologia que se adéqua a uma teologia predeterminada. Fazendo isto, eles reinterpretam o Antigo Testamento de maneira tal que ninguém antes do tempo de Cristo teria reconhecido suas conclusões.

As profecias do Antigo Testamento, tomadas em seu significado simples, inevitavelmente levam ao Premilenismo Futurista (Dispensacionalismo). Como notado no capítulo anterior, este é um ponto sobre o qual os eruditos amilenistas e posmilenistas concordam. Até mesmo um breve panorama da profecia do Antigo Testamento não permite questionamento quanto ao que estava sendo descrito, Como explica o Premilenista Walvoord:

Se interpretado literalmente, o Antigo Testamento nos dá uma clara noção de expectativa profética de Israel. Eles confiantemente anteciparam a vinda de um Salvador e Libertador, um Messias que seria Profeta, Sacerdote e Rei. Esperavam que Ele os livrasse de seus inimigos e inaugurasse um reino de justiça, paz e prosperidade sobre a terra redimida. Dificilmente se discutirá se o Antigo Testamento apresenta ou não tal quadro, não em textos isolados, mas na declaração constantemente repetida da maioria dos profetas. Todos os Profetas Maiores e praticamente todos os Menores possuem secções messiânicas, descrevendo a restauração e a glória de Israel em seu reino futuro. Isto é tão claro aos grandes estudiosos do Antigo Testamento que é consenso entre praticamente todos que o Antigo Testamento apresenta a doutrina Premilenista quando interpretado literalmente. A interpretação premilenista oferece o único cumprimento literal possível para centenas de versículos do testemunho profético.[3]

À luz desta realidade histórica, amilenistas e posmilenistas geralmente respondem de uma das duas maneiras: Por um lado, alguns afirmam que as promessas dadas no Antigo Testamento, quando interpretadas como literais, eram condicionais. Assim, quando a nação de Israel rejeitou o Messias, ela automaticamente anulou qualquer promessa de um reino futuro. Mas, como discutido no capítulo anterior, esta [terrível] afirmação choca-se contra a natureza irrevogável da eleição divina (Rm 11.29). A rejeição do Messias por Israel era parte do plano de Deus desde a eternidade passada, o que levaria o Salvador à cruz. Isto não alterou o plano de Deus quanto ao Seu povo escolhido. Ademais, o glorioso futuros de Israel é predito na promessa incondicional das alianças Abraâmica, Davídica e Nova Aliança (e.g., Sl 89.29-37; Jr 30.4-11). Deus não revogaria estas promessas sem que tivesse que voltar atrás em Sua palavra, o que é absolutamente impossível (Hb 6.13-18). Por outro lado, muitos amilenistas e posmilenistas respondem a isto simplesmente rejeitando a noção de que as promessas concernentes ao milênio devam ser interpretadas literalmente. Em vez disso, eles afirmam que muitas das profecias do Antigo Testamento devem ser espiritualizadas, tais como quaisquer descrições físicas de um reino futuro são entendidas como metáforas de bênção espiritual. Eruditas amilenistas justificam tal abordagem apelando ao Novo Testamento com a desculpa de que, se o intérprete começar aqui (no NT), ele chegará ao entendimento do Antigo Testamento numa perspectiva amilenista. O propósito deste capítulo é investigar esta argumentação. Para fazê-lo, antes de tudo é importante entendermos a mente escatológica do Antigo Israel. Não se questiona se os judeus do Antigo Testamento interpretavam as palavras dos profetas de modo literal. Como resultado disto, eles esperavam um reino messiânico futuro na terra. A antecipação daquela era dourada descreve uma progressão por todo o período intertestamentário. Como explica o erudito abaixo:

Durante o período chamado intertestamentário desenvolvia-se um pensamento em boa parte da literatura judaica de uma ressurreição por vir e do estabelecimento de um “reino milenar.”... Por exemplo, um reino milenar é descrito em obras como Enoque 6–36, 91–104 e 2Enoque 33.1, onde temos a expressão 1.000 anos, 4Esdras 7.28-29, onde temos o número de 400 anos e Test. Isaque 6–8, onde se refere a um banquete milenar.[4]

Nos tempos de Cristo, portanto, a expectativa do povo judeu tinha como foco um reino terreno no qual o Messias reinaria de Jerusalém sobre todas as nações.[5] Esta teria sido a perspectiva de Maria ao ouvir o anúncio do anjo Gabriel em Lucas 1.31-33.[6]. Foi também a visão dos discípulos durante seu tempo com Jesus – foi por isto que, embora motivados por razões egoístas, eles desejaram grandeza pessoal no reino (cf. Mt 20.21; Mc 10.37; Lc 22.24).

A consideração do tratamento que o Novo Testamento dá às questões relativas ao milênio deve ser feita tendo como pano de fundo a escatologia judaica do primeiro século. Se os escritores do Novo Testamento tivessem rejeitado o Premilenismo Futurista, tão prevalecente em seus dias, deveríamos esperar que eles o denunciassem clara e explicitamente (como o fizeram em resposta a outras questões, tais como o legalismo dos judaizantes). Uma veemente condenação seria necessária a fim de sobrepor a tão disseminada escatologia dos crentes judeus, baseada num entendimento comum das Escrituras do Antigo Testamento que lhes tinham sido transmitida.[7]

O fato de não existir tal denúncia tem grande significância, especialmente quando comparado com as passagens do Novo Testamento onde uma interpretação literal da profecia do Antigo Testamento é assumida. Ademais, a referência mais explícita ao milênio em toda a Escritura encontra-se no Novo Testamento, no livro de Apocalipse 20.1–6. Se o propósito dos escritores do Novo Testamento era negar a escatologia prevalecente em seus dias, como afirma a posição amilenista, eles fizeram um péssimo trabalho – de fato, um trabalho muito pobre, tanto que a geração de pais da igreja que imediatamente os seguiu entendeu o Novo Testamento numa perspectiva distintamente Premilenista.[8] Como observa certo escritor:

Um dos testemunhos mais eloqüentes à verdade Premilenista encontra-se no absoluto silêncio do Novo Testamento e, consequentemente, dos primeiros pais da igreja a respeito de qualquer controvérsia considerando o ensino premilenista. A visão premilenista era universalmente adotada pelos judeus. A igreja também era predominantemente premilenista. Não há registro de qualquer controvérsia nesse sentido. É inacreditável que os judeus e a igreja primitiva tivessem cometido um erro tão sério em sua interpretação do Antigo Testamento em sua expectativa quanto ao justo reino sobre a terra após o segundo advento de Cristo, e não haja uma correção, além de toda evidência que vem a confirmar, e não negar tal interpretação.[9]

Na discussão que se segue, os ensinos de Cristo, Pedro, Paulo e João serão considerados. A cada um deles será perguntado se rejeitam ou não o Premilenismo Futurista. Notar-se-á que, em vez de uma interpretação alegórica excludente das promessas do Antigo Testamento, o Novo Testamento realmente promove e sustenta o Premilenismo Futurista dos profetas judeus.


JESUS TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?
Embora Jesus tenha falado do reino de Deus em um sentido geral (como o domínio no qual Deus governa ou a esfera da salvação), ele jamais negou a realidade do reino milenar futuro.[20]. De fato, a promessa de Jesus em Mateus 19.28 foi explicitamente premilenista. Ele disse aos seus discípulos: “Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da Sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel”.Esta promessa foi reiterada na noite que antecedeu sua morte, como registrado emLucas 22.28-30: “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Assim como meu Pai me confiou um reino, Eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel”. Os discípulos que compartilhavam as expectativas milenistas de seus compatriotas judeus entenderam claramente estas promessas literalmente.

Após a ressurreição, o Senhor continuou a instruir seus discípulos sobre o reino. Lucas, em sua breve descrição do período de quarenta dias entre a ressurreição e a assunção do Senhor, explica que este tópico era predominante nos dias do ministério de ensino de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas escreve: “A estes [os apóstolos] também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus”. Sua mensagem primária dizia respeito ao reino. Embora os discípulos tivessem sido caracterizados no passado como cabeças duras, este não era mais o caso, pois Cristo “abriu suas mentes para entenderem as Escrituras” (Lc 24.45).

Ao fim do período de quarenta dias a Escritura inclui uma passagem mais instrutiva acerca do reino milenar. Depois de terem sido ensinados sobre o reino pelo próprio Cristo e de terem recebido um entendimento sobrenatural da Palavra de Deus, os discípulos ainda entenderam o reino messiânico no seu sentido normal [literal] – Premilenista Futurista. Em Atos 1.6 eles inquiriram: “Senhor, será este o tempo em que restaurarás o Reino a Israel?”. Na mente dos discípulos, após intensiva instrução sobre o assunto pelo próprio Cristo ressurreto, as promessas do Antigo Testamento concernentes ao milênio ainda deveriam ser entendidas como literalmente verdadeiras. Sua única pergunta era a respeito de quando estas coisas deveriam acontecer. É importante notarmos a maneira que Jesus respondeu a esta dúvida:“Respondeu-lhes: ‘Não vos compete conhecer os tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade’” (v. 7). É significativo que Cristo não denuncie ou corrija a expectativa dos discípulos quanto ao milênio [literal]. Ele não refuta seu entendimento da natureza do reino. Em vez disso, Cristo meramente explica que não era da competência dos discípulos conhecerem o tempo daquele reino futuro. Durante os quarenta dias que Jesus passou com seus discípulos discutindo coisas pertinentes ao reino, Ele certamente poderia ter-lhes ensinado que esse reino era apenas “espiritual”. Tendo aberto os olhos dos discípulos para entenderem as Escrituras, o Senhor poderia ter-lhes explicado que os profetas do Antigo Testamento deveriam ser interpretados de modo alegórico e não literal. Mas Ele não o fez. Ao fim deste período, os discípulos ainda estavam convencidos de que o reino seria literalmente restaurado à nação de Israel. Se Cristo tivesse a intenção de corrigir tal noção, esta seria a melhor oportunidade para o fazer. Mas Ele nada disse. Ele se recusou a responder a pergunta dos discípulos acerca do tempo do reino, mas de maneira nenhuma refutou seu entendimento da natureza desse reino. A resposta de Cristo indica claramente que a expectativa dos apóstolos de um reino terreno, literal, refletia seu próprio ensino e o plano de Deus, claramente revelado no Antigo Testamento. Mas o tempo do reino era ainda futuro. Nesse ínterim, o Senhor tinha uma missão específica a confiar aos discípulos, que deveriam ser suas testemunhas “tanto em Jerusalém como em toda a Judeia, Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).


PEDRO TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?

Do testemunho de Cristo, vamos aos testemunhos dos pós-Pentecostes dos apóstolos. Atos 1.6 indica que os discípulos mantiveram suas expectativas premilenistas após a ressurreição de Jesus. Mas o que dizer do Dia de Pentecostes? O estabelecimento da igreja em Atos 2 alterou seu entendimento da profecia do Antigo Testamento?

O sermão de Pedro em Atos 3 indica exatamente o oposto – que os apóstolos aguardavam objetivamente o cumprimento literal da profecia do milênio, mesmo depois do nascimento da igreja. Após a cura de um homem (At 3.6-7), Pedro começou a pregar no templo. Lucas registra o sermão em Atos 3.12-26. Em meio à mensagem, Pedro disse aos seus ouvintes judeus: “Mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para que sejam apagados os vossos pecados, a fim de que, pela presença do Senhor, venham os tempos de Seu refrigério, e que Ele envie o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas de que Deus falou pela boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (v. 18-21).

Nestes poucos versos, Pedro revela dois pontos importantes: Primeiro, ele enfatizou que as profecias do Antigo Testamento sobre a primeira vinda de Jesus tinham sido literalmente cumpridas (v. 18); assim, os judeus deveriam esperar que as profecias sobre sua segunda vinda também se cumpririam literalmente (v. 20-21). Segundo, Pedro usou a linguagem própria do milênio – indicando que falava de um reino terreno esperado por sua platéia judia. Frases como “tempos de refrigério” e “o período de restauração de todas as coisas” são frases características do milênio literal, emprestando imagens do Antigo Testamento, com as quais os ouvintes de Pedro estavam plenamente familiarizados.

Por exemplo, Ezequiel disse que o reino milenar seria “chuva de bênçãos” (34.26). O profeta Joel o descreveu como um tempo de satisfação (2.26). Isaías o viu como uma era em que “A areia esbraseada se transformará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas” (35.6-7). Isaías 11.6-10 o descreve com palavras semelhantes:

“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar. Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada”.

“O período de restauração de todas as coisas” é outro nome para o reino terreno futuro de Cristo, o reino milenar. É reminiscente da descrição de nosso Senhor do reino como a “regeneração” (Mt 19.28). É então que a pergunta dos apóstolos em Atos 1.6 será respondida (cf. Mc 9.12). O reino será marcado por paz, alegria, santidade, pela revelação da glória de Deus, conforto, justiça, conhecimento do Senhor, saúde, prosperidade e liberdade da opressão. O universo será dramaticamente alterado em sua forma física (Jo 2.30,31; 3.14-16; Ap 16.1-21) assim como a maldição sobre o homem e seu mundo será revertida.

Pedro encerrou seu sermão em Atos 3 reafirmando o fato de que os judeus ainda eram a nação escolhida de Deus. Ele disse: “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: “NA TUA DESCENDÊNCIA SERÃO ABENÇOADAS TODAS AS NAÇÕES DA TERRA” (v. 25). Em vez de negar um futuro para a Israel nacional, Pedro sustentou e afirmou um entendimento literal das promessas do Antigo Testamento – note que elas seriam cumpridas literalmente, do mesmo modo que foram as promessas quanto à primeira vinda de Cristo. Quando o ouviram pregar, os judeus entenderam exatamente o que Pedro queria dizer.


PAULO TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?

Como apóstolo dos gentios, Paulo talvez fosse o mais interessado em negar um reino futuro para a nação de Israel ao proclamar o evangelho a uma audiência não-judia por todo o império romano. Entretanto, o que Paulo disse aos seus leitores predominantemente gentios em Romanos 3.1-4?

“Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus. E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá a desfazer a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso, segundo está escrito: PARA SERES JUSTIFICADO NAS TUAS PALAVRAS E VENHAS A VENCER QUANDO FORES JULGADO”.

A infidelidade de alguns judeus (cf. Rm 9.6) – ao ponto de uma geração inteira ter rejeitado o seu Messias – não anulou a fidelidade de Deus, nem cancelou Suas promessas à nação de Israel. Como Paulo perguntou retoricamente em Romanos 11.1: “Pergunto, pois: Terá Deus rejeitado Seu povo? De modo algum!”. O apóstolo continua a explicar esse ponto nos versos 25-29. Ele escreve:

“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: VIRÁ DE SIÃO O LIBERTADOR, E ELE APARTARÁ DE JACÓ AS IMPIEDADES. ESTA É A MINHA ALIANÇA COM ELES, QUANDO EU TIRAR OS SEUS PECADOS. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.

No contexto, “Todo Israel” deve ser entendido apenas como – uma geração futura de judeus étnicos que comporão toda a nação de Israel no início do reino milenar. A visão amilenista comum de que “todo Israel” se refere unicamente ao remanescente redimido durante a era da igreja é incoerente com o texto. A declaração de Paulo diz respeito de todo o Israel judeu crente, a quem o Senhor preservara para Si mesmo. O fato, por exemplo, de que somente alguns dos ramos (judeus descrentes) foram quebrados (v. 17) plenamente indica que o remanescente de judeus crentes – os ramos que não foram quebrados – continuarão a existir, enquanto que a totalidade dos gentios está sendo completada. Estes judeus são os que estão sendo redimidos e que não fazem parte do endurecimento espiritual que veio a Israel por conta de sua rejeição do Messias (v. 25).

Antes de todo o Israel ser salvo, seus membros descrentes, impiedosos, serão separados pela inerrante mão do julgamento de Deus (Ez 20.33-38; Dn 12.10; Zc 13.8-9). Os que ouvirem a pregação dos 144.000 (Ap 7.1-8); 14.1-5), de outros convertidos (Ap 7.9), de outras testemunhas (Ap 11.3-13) e do anjo (Ap 14.6), e assim passarem pela vara do julgamento de Deus, compreendem todo Israel, que – em cumprimento à promessa irrevogável e soberana de Deus – será completamente uma nação de crentes prontos para o reino do Messias Jesus. Então as promessas da nova aliança serão final e completamente cumpridas:

“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados “ (Jeremias 31.31-34; cf. 32.38)
.

O controle de Deus sobre a história evidencia irrefutavelmente Sua soberania. E tão certo como Ele cortou o Israel infiel de Sua árvore da salvação, Ele também restaurará o Israel fiel, trazendo-o de volta para Si – uma nação completamente restaurada e completamente salva. Assim, como a totalidade dos gentios iniciará a salvação de Israel, assim também a salvação de Israel iniciará o reino milenar de Jesus Cristo. Como um expert que era no Antigo Testamento, Paulo tinha grande familiaridade com as promessas de Deus a Israel. Em Romanos 3 e 11, o apóstolo deixou muito claro que acreditava no cumprimento literal e futuro dessas promessas.


JOÃO TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?

Quem quer que afirme que o apóstolo João negou um reino milenar futuro e literal, deve tratar primeiro com o texto de Apocalipse 20.1-6 (para maior explicação sobre essa passagem, ver os capítulos 3 e 6). O texto não poderia ser mais claro. Considere as palavras de João escrevendo de seu exílio na ilha de Patmos, encorajando seus leitores com a futura esperança:

“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo. E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos” (Apocalipse 20.1-6).

A passagem inequivocadamente ensina que o retorno de Cristo precede o reino milenar – um cenário incompatível com o Amilenismo e o Posmilenismo, mas que é exatamente o que ensina o Premilenismo Futurista. Para negar a cronologia que Apocalipse impõe às suas perspectivas, as posições amilenistas e posmilenistas precisam negar que o capítulo 20 segue cronologicamente o capítulo 19.[11] Mas tal negação ignora a significância cronológica da frase “e vi” (v. 1,4,11; cf. Ap 6.1,2,5,8,12; 7.2; 8.2,13; 9.1; 10.1; 13.1,11; 14.1,6,14; 15.1; 16.13; 17.3; 19.11,17,19; 21.1) e a continuidade do contexto. Tendo tratado do Anticristo e do falso profeta no capítulo 19, Cristo trata com o maligno, Satanás, no capítulo 20. Por que rejeitar uma cronologia tão óbvia? A principal motivação parece ser uma negação das conclusões Premilenistas Futuristas – na ausência daquela persuasiva justificativa bíblica.

A extensão do tempo em que Satanás será preso é definido como mil anos, isto é, as primeiras seis referências precisas e importantes à duração do milênio (cf. Ap 20.3,4,5,6,7). A prisão de Satanás traz sérias dificuldades para amilenistas e posmilenistas. Eles afirmam que Satanás já se encontra preso, pois crêem que já [supostamente] estamos vivendo o milênio (embora não entendam que a duração do milênio seja literalmente de mil anos). Muitos posmilenistas também crêem que Satanás esteja atualmente preso, pois, de outra forma, seria difícil ver como a igreja poderia antecipar o milênio. Entretanto, a atividade de Satanás na era presente torna impossível a afirmação de que ele esteja preso na era atual. Satanás introduz hipócritas mentirosos na igreja (At 5.3), trama esquemas contra os crentes (2Co 2.11; Ef 6.11), disfarça-se de anjo de luz para enganar as pessoas (2Co 11.14) e ataca os crentes (2Co 12.7; Ef 4.27). Satanás também deve ser resistido (Tg 4.7); ele atrapalha os que estão no ministério (1Ts 2.18) e leva os crentes ao desvio (1Tm 5.15). Amilenistas e posmilenistas geralmente argumentam que Satanás foi preso no momento da cruz e que tal prisão significa simplesmente que ele não pode mais enganar as nações, impendido-as de aprenderem a verdade de Deus. Mas Satanás nunca impediu as nações gentílicas de conhecerem a verdade antes de sua alegada prisão por ocasião da cruz. Os egípcios ouviram sobre o Deus verdadeiro pelos lábios de José e dos israelitas durante os quatrocentos anos em que lá viveram como escravos. Os assírios de Nínive não somente ouviram a verdade pela boca de Jonas, como também se arrependeram (Mt 12.41). A rainha de Sabá ouviu a respeito do verdadeiro Deus por meio de Salomão (1Re 10.1-9); os babilônios ouviram através de Daniel e de seus amigos judeus; os persas ouviram sobre Deus através de Ester, Mordecai e Neemias. Ademais, em que sentido Satanás é impedido de enganar as nações na era presente, quando Paulo afirma [peremptoriamente] que ele cega o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4), e que ele “agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2.2), e que “mantém cativos os descrentes” (2Tm 2.26) em seu atual império (Cl 1.13)?


A Escritura testifica que tudo pode ser dito de Satanás nesta era, menos que esteja preso, o que acontecerá somente no reino terreno vindouro de nosso Senhor Jesus Cristo. Somente então o príncipe das trevas será encarcerado no grande abismo, que será fechado e selado para que ele não possa mais enganar as nações (cf. Is 24.21-22). Sua atividade no mundo não será meramente restringida ou refreada, mas completamente interrompida; não mais lhe será permitido atuar no mundo, como quer que seja. Com Satanás, suas hostes de demônios e todos os pecadores que rejeitaram a Deus estarão fora do caminho, e o reino milenar de paz e justiça será estabelecido [na terra por mil anos]. O regente supremo neste reino será, naturalmente, o Senhor Jesus Cristo. Somente ele é o “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16), e “O Senhor Deus lhe dará [a Ele somente] o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). E Ele ainda prometeu graciosamente que seus santos reinarão com Ele (Ap 2.26-27). Eles governarão subordinados sobre cada aspecto da vida no reino e, sendo glorificados e aperfeiçoados, cumprirão com perfeição a vontade de Deus.

Nesta visão, João vê o panorama do povo de Deus ressurreto, recompensado e reinando com Cristo [na terra por mil anos]. Ele viu tronos simbolizando autoridade judicial e real, com o povo de Deus os ocupando, e o julgamento lhes foi dado. Os santos glorificados promoverão a vontade de Deus e julgarão disputas. Política e socialmente, o governo de Cristo e de Seus santos será universal (Sl 2.6-8); Dn 2.35), absoluto (Sl 2.9; Is 11.4) e justo (Is 11.3-5). Espiritualmente, Seu governo será um tempo em que o remanescente descrente de Israel será convertido (Jr 30.5-8; Rm 11.26) e a nação será restaurada à terra que Deus prometeu a Abraão (Gn 13.14-15; 15.18). Será um tempo em que as nações gentílicas também adorarão o Rei (Is 11.9; Mq 4.2; Zc 14.16). O governo milenar de Cristo e de Seus santos será marcado pela presença da justiça e da paz (Is 32.17) e da alegria (Is 12.3-4; 61.3,7). Finalmente, será um tempo em que a maldição será interrompida (Is 11.7-9; 30.23-24; 35.1-2,7), um tempo em que haverá abundância de alimentos (Joel 2.21-27), um tempo em que haverá plena saúde e bem-estar (Is 33.24; 35.5-6), o que resultará em longevidade (Is 65.20).

Embora os amilenistas tentem reduzir o Premilenismo Futurista meramente a um ensino do Antigo Testamento, o fato é que a passagem mais explícita acerca do milênio encontra-se no livro final do Novo Testamento. Tomadas em seu sentido normal, as palavras de João não podem ser minimizadas. Como observa Walvoord:

O livro de Apocalipse, embora sujeito a todo tipo de abuso por parte da erudição e divergentes interpretações, quando tomado em seu propósito pleno, nos oferece um esboço simples da verdade Premilenista Futurista – primeiramente um tempo de grande tribulação; em seguida o segundo advento, o aprisionamento de Satanás, a libertação e bênção dos santos, o governo justo sobre a terra por 1000 anos, seguidos pelo julgamento final, e novos céus e nova terra.[12]


REUNINDO TODAS AS TESTEMUNHAS

O coração do debate milenista realmente encontra-se no Novo Testamento. Praticamente todos reconhecem que o Antigo Testamento ensina o Premilenismo Futurista – isto é, caso suas promessas sejam interpretadas literalmente. Os judeus do Antigo Testamento e do período entre os dois testamentos certamente entenderam tais promessas em termos literais. Eles esperaram um reino messiânico terreno – um tempo de grande bênção física e paz política para o mundo. A questão, então, é se os escritores do Novo Testamento desaprovam ou não tal perspectiva. E a resposta simples é não.

De fato, eles fizeram o oposto. Quando é seu propósito falar sobre o tratamento de Deus com os judeus, eles enfatizam o fato de que Ele ainda não concluiu Sua obra naquela nação. As promessas do Antigo Testamento ainda não se cumpriram, mas se cumprirão – do mesmo modo que a profecia bíblica se cumpriu com respeito à primeira vinda de Cristo. Ademais, o Novo Testamento especifica a duração do tempo, mil anos, que terá o reino milenar antes da história do mundo chegar ao seu fim, dando início ao estado eterno. Com a confiança de que todas as promessas de Deus verdadeiramente se cumprirão, os crentes podem esperar um futuro glorioso – tanto no reino milenar como além – que os aguarda e a todos que põem sua fé em Jesus Cristo.

– John MacArthur / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o Premilenismo Futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 8, Pág. 155-168.
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📚 SÉRIE: Os Planos Proféticos de Cristo 
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Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.